T Ó P I C O : A importância do boro para o cafeeiro vai além do pegamento de florada - Por MSc. Davi Moscardini (Nitro) e Prof. Paulo Mazzafera (UNICAMP)
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A importância do boro para o cafeeiro vai além do pegamento de florada - Por MSc. Davi Moscardini (Nitro) e Prof. Paulo Mazzafera (UNICAMP)
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 23/01/2023 13:29:50
Leonardo Assad Aoun comentou em: 23/01/2023 13:01
A importância do boro para o cafeeiro vai além do pegamento de florada - Por MSc. Davi Moscardini (Nitro) e Prof. Paulo Mazzafera (UNICAMP)
O boro (B) é atualmente o micronutriente mais discutido na cultura do café, dado seu impacto severo na produtividade quando em quantidade inadequada no solo. A combinação de solos muito intemperizados, material de origem pobre e as chuvas abundantes no clima tropical fazem com este nutriente seja muito escasso em todas as regiões cafeeiras. No solo, o B está na forma de ácido bórico, facilmente lixiviado durante a estação chuvosa por não apresentar cargas passíveis de retenção na fração coloidal do solo. A análise de 190 solos de 15 países mostrou que 31% deles apresentaram teores muito baixos de B e a deficiência foi relatada em pelo menos 80 países em 132 culturas.
No campo seu uso está muito difundido pela sua importância no “pegamento da florada”, termo que descreve a quantidade de frutos fixada após a ocorrência da abertura das flores (antese). Esta é de fato uma das principais funções do B, que é fundamental para capacidade de produção, viabilidade, tamanho, germinação e crescimento dos grãos de pólen. Cafeeiros deficientes em B apresentam baixa fixação de frutos após a florada, que pode ser exuberante, mas não se converte em grande quantidade de chumbinhos devido a essencialidade deste nutriente para a fecundação.
Na maioria das espécies a quantidade de B no grão de pólen é baixa, mas as partes femininas das flores (estilo, estigma e ovários) têm concentrações altas, transferindo B para o tubo polínico que se forma depois da germinação do pólen. Este é o motivo pelo qual aos tubos polínicos crescem bem e não são deformados quando a germinação ocorre em solução com B (Figura 1). Aparentemente isto está relacionado à formação da parede celular, mais especificamente a pectina da parede celular, que é encontrada em grande quantidade nesta estrutura.
Figura 1. Germinação e crescimento do tubo polínico em Pinus. (A) Meio com boro suficiente apresentando pólen germinado e com crescimento do tubo polínico. (B) Meio com boro deficiente com baixa germinação e tubos polínicos apresentando deformidades. Adaptado de Wang et al. (2003).
Apesar desta ser uma notável função do boro nos vegetais é importante esclarecer que este nutriente possui outros papéis menos conhecidos, mas de mesma importância na cultura do cafeeiro:
Função estrutural: Formação da parede celular
O crescimento dos vegetais (divisão e expansão celular) depende do B para a formação das paredes celulares. Estima-se que 95% do B presente nas plantas esteja associado a esta estrutura. Isto cresce em importância quando consideramos que todas as células vegetais possuem parede celular, que é uma das características que as diferenciam de células animais. Logo, o B está por toda planta: folhas, frutos, raízes, vasos de xilema, floema e estômatos. No cafeeiro, as maiores quantidades de B estão nas folhas. Em plantas lenhosas, onde o café se insere, a deficiência de B tem sido relacionada à má formação da parede celular e membrana, evidenciando papel importante deste nutriente para o transporte de água. Veja as diferenças na estrutura do xilema da figura 2.
Figura 2. A deficiência de B causa desorganização de vasos de xilema, porque afeta a ligação da pectina com a celulose, desestruturando a parede celular. Adaptado de Rosolem & Leite (2007).
Movimentação de nutrientes e moléculas orgânicas
Outro papel muito importante do B, e que pode afetar vários outros processos, é sua função no transporte de nutrientes e moléculas orgânicas através da membrana celular. A falta de B afeta a enzima H+-ATPase, que controla o gradiente elétrico entre um lado e outro das membranas. Este processo é essencial para que os nutrientes e muitas moléculas orgânicas atravessem a membrana celular e se movimentem dentro das células e pela planta. Um exemplo é a sacarose que tem seu transporte dificultado quando o cafeeiro não tem acesso a quantidade adequada de B. Especula-se que este distúrbio na translocação de carboidratos esteja relacionado também a enzima H+-ATPase. A implicação prática desta desordem é que o acúmulo de sacarose nas folhas é um sinal de que a planta não necessita de mais açúcares, levando a diminuição da fotossíntese e a produção de espécies reativas de oxigênio, que são tóxicas às células vegetais.
Cafeeiros deficientes em B se tornam menos eficientes no uso dos recursos necessários para elevadas taxas de fotossíntese, especialmente a água e o nitrogênio. O investimento elevado em irrigação e adubações pode estar sendo limitado por um nutriente barato e requerido em quantidade baixa no cafezal. Dada sua importância estrutural e bioquímica para o transporte de produtos da fotossíntese fica evidente que a adequada nutrição de B é também fundamental para a obtenção de cafés de alta qualidade de bebida.
Sintomas da deficiência de B no cafezal
A deficiência de boro causa baixo pegamento de florada, folhas deformadas, baixo desenvolvimento radicular e arquitetura de copa em formato de taça que evidencia a paralização de crescimento do ramo ortotrópico. As plantas deficientes em B também são mais susceptíveis ao ataque de doenças, umas vez que a parede celular bem formada é uma barreira física a penetração de fungos e bactérias.
Como realizar o fornecimento de boro no cafezal?
A melhor estratégia para correção do boro é associação de aportes via solo com aplicações foliares durante a estação de crescimento. Apesar do B ser requerido em baixa quantidade pelo cafeeiro não é recomendável realizar o fornecimento apenas via folha, uma vez que a mobilidade deste elemento pelo floema é muito baixa e insuficiente para lavouras de alto potencial.
No solo o teor deve alcançar 1,0 mg/dm³ para que a produção não seja limitada por este nutriente. Esta não é uma tarefa fácil, pois geralmente o B aplicado durante uma safra se perde por lixiviação, especialmente se seu aporte for realizado com fontes solúveis em água, como o ácido bórico.
Uma estratégia interessante para a construção de fertilidade deste nutriente é o emprego de fontes de liberação gradual como a ulexita, que é solúvel em ácido cítrico 2%. Em culturas perenes sua liberação mais lenta diminui a susceptibilidade a lixiviação e disponibiliza boro ao longo do ciclo. As frações de solubilidade mais lenta também contribuem para o incremento de boro no solo ao longo das safras, garantindo a nutrição deste elemento chave para cafezais de alta produtividade.
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