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T Ó P I C O : Resposta ao Embargo - Por Celso Vegro

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Resposta ao Embargo - Por Celso Vegro


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 23/07/2025 17:32:40


Leonardo Assad Aoun comentou em: 23/07/2025 17:29

 

Resposta ao Embargo - Por Celso Vegro

 

Resposta ao Embargo

Ao contrário do que ocorre com o resto do mundo, os EUA possuem longo histórico de obtenção de saldo comercial positivo frente as transações que efetua com o Brasil, denotando ainda mais a deformidade que a imposição tarifária contra o país embute. Aparentemente, a possibilidade da instituição do Brix Pay constitui o verdadeiro foco da arbitrariedade contra o Brasil.

Diante da perspectiva de irredutibilidade com a revogação e/ou adiamento do pico tarifário instituído pelo mandatário estadunidense sobre uma nação soberana, o agronegócio café brasileiro como um todo deve considerar que o que se impôs foi, verdadeiramente, uma espécie embargo às exportações brasileiras de café (verde, solúvel e torrado e moído).

Os reflexos sobre a economia cafeeira no Brasil serão relevantes na medida em que os EUA respondem por compras de, aproximadamente, 8,0 milhões de sacas (considerando em equivalente verde). No primeiro semestre de 2025, o país exportou para os EUA 3,32 milhões de sacas de café, representando declínio de 16,89% frente a igual período de 2024. Ainda assim, o mercado estadunidense respondeu por 17,1% do total das exportações contabilizadas no período. Em contrapartida, as exportações de café para todos os destinos somaram 19,41 milhões de sacas, representando receita cambial de US$7,52 bilhões1 (Relatório, 2025).

Segmentos econômicos estadunidenses ajuízam ações contra a escalada tarifária às mercadorias brasileiras destinadas ao seu mercado. Os importadores/distribuidores de suco de laranja, por exemplo, já o fizeram2. No segmento de café que responde por cerca de um terço das importações estadunidenses alertam sobre o impacto da medida: aproximadamente 1,2% do PIB nacional, mais de US$343 bilhões em negócios ao ano ocupando 2,2 milhões de trabalhadores. Trata-se, portanto, de dinâmica econômica ímpar que provavelmente se associará ao grupo do suco de laranja no ajuizamento de uma segunda ação contestatória. 

A afronta ao Brasil exige primeiramente uma ampla negociação ao que a diplomacia brasileira, conduzida pelo vice-presidente, está firmemente liderando. Aparentemente, restando poucos dias para o início de vigência do pico tarifário, nenhum avanço foi alcançado junto as autoridades comerciais estadunidenses (revogação e/ou adiamento). Caminhamos para um real embargo das exportações de café brasileiras para esse mercado.

Diante desse cenário quais as possíveis ações defensivas que o agronegócio café poderia adotar? A mais direta seria paulatinamente se desfazer dos contratos futuros em Nova Iorque para privilegiar a B[3]. O cerceamento do acesso ao mercado estadunidense sinaliza que os negócios (apenas contratos e/ou físico) que o agronegócio Cafés do Brasil movimenta naquela praça são desejáveis. O momento é perfeito para que essa iniciativa ganhe musculatura convidando, inclusive, outros países produtores (Vietnã e Colômbia) a se associarem a esse movimento.

 A Bolsa brasileira teve seu início há mais de trinta anos com o contrato futuro do café que, até meados dos anos 2000, vinha num crescente de melhoria de desempenho. Questões tributárias (IOF) e a necessidade do contrato casado (futuro de café e cambial) levaram a uma preferência pela praça nova-iorquina. Todavia, tais obstáculos são perfeitamente contornáveis dispondo das atuais sofisticadas ferramentas financeiras. O Governo Federal que já anunciou a possibilidade de oferecer crédito aos cafeicultores, cooperativas, traders e exportadores afetados pelo tarifaço pode ser convertido em isenção do IOF nas operações de contrato futuro e subvenção no prêmio para os contratos de opções privadas.

O risco de despencarem as cotações diante do empoçamento dos cafés que seriam exportados para os EUA e, ainda, devido à dificuldade momentânea de reordenamento dos destinos poderiam ser beneficiados por AGF ou subvenção ao PEPRO (desde que os preços mínimos reflitam a realidade do mercado). Café é produto não perecível, portanto armazenável. Numa eventual aquisição do Governo Federal (via AGF ou PEPRO), dado o atual contexto de baixos estoques e demanda crescente pelo produto, existe inclusive a possibilidade de entesouramento público por meio dessa operação (leilão da CONAB)3. 

Quando a força do poder prevalece sobre o a vontade de dialogar, estabelecesse o dissenso, ou seja, a imposição do medo como método de sujeição. A política comercial, longamente construída inclusive com empenho dos EUA, foi instrumentalizada para fins espúrios e se esfacelou. Sob suas ruínas erode-se a confiança no mercado estadunidense, alicerce básico para a troca justa entre as nações. O afastamento do mundo desse mercado será o resultado mais concreto dessa guerra comercial estabelecida. 

1 Relatório jun./2025.  Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CACAFE). Disponível em: www.cecafe.com.br Acesso em 22/07/2025.

2 Ver: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/macroeconomia/vendemos-33-do-cafe-consumido-nos-eua-diz-presidente-do-cecafe/  Acesso em 22/07/2025.

3 Como sugestão, caberia ao conselho gestor do FUNCAFE desenhar política para o enfrentamento das questões mencionadas.

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr. MS, Pesquisador Científico

celvegro@sp.gov.br

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