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T Ó P I C O : A Ruína das Altas Cotações - Por Celso Vegro

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A Ruína das Altas Cotações - Por Celso Vegro


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 06/11/2025 19:40:59


Leonardo Assad Aoun comentou em: 06/11/2025 19:29

 

A Ruína das Altas Cotações - Por Celso Vegro

 

Nas duas últimas safras de café no Brasil, observou-se cotações do café nas bolsas de mercadorias em contínua elevação, alcançando para arábica, recentemente, patamares acima de US$¢4,00/lbp em Nova York, oscilando desde então ao redor desse nível de preços. Provocado pela escassez global do produto, houve, também, ascensão dos preços do canéfora no mercado interno, alcançando patamar de R$1.500,00/sc. 

Desde a safra de 2020/21, em que se contabilizou colheita ao redor das 65 milhões de sacas, a rentabilidade na atividade não se mostrava satisfatória, especialmente em decorrência dos distúrbios climáticos que intervieram no andamento da safra (granizo, altas temperaturas, veranico e geada). Ademais, muitos cafeicultores que praticavam a gestão de risco, contratando hedge de preço, porém, sem seguro (esse último elemento de garantia de participação do cafeicultor na alta), tiveram dificuldades em honrar seus contratos, seja por frustração de safra, como por interesse em se beneficiar dos altos preços que passaram a vigorar após a geada de 2021.

Nesse contexto se inicia um agravamento da arquitetura financeira desenvolvida, visando pleno funcionamento desse mercado (compartilhamento do risco). Surge um trade-off junto a exportadores (atualmente liderados pelas principais cooperativas de cafeicultores) comprometidos com entregas futuras junto aos seus clientes, que devidamente travados tanto na cotação do café como no risco cambial, não apenas ficaram sem o produto, sendo, ainda, demandados pelas corretoras em aportar margem aos contratos não quitados.

As altas cotações também criaram outro comportamento oportunistico. Contratos de compras futuras realizadas por exportadores são quitados com produto de bebida inferior e/ou maior número de defeitos, comparativamente, a previamente estabelecida (adquiriu Fine Cups ou Good Cups e recebeu Rio Minas ou, ainda, contratou com 10% de cata e recebeu produto com o dobro disso). Tal comportamento implica na necessidade de aquisição no mercado spot (que está invertido), exigindo do exportador desencaixe adicional de recursos para cumprir com seus embarques.

Sim, houve má gestão de poucas empresas exportadoras na condução de seus negócios (construção de pirâmides), mas a maior parte delas encontra-se sob fluxo tenso, ou seja, entre necessidade de cumprir com entregas internacionais e insegurança, quanto ao recebimento do produto, nos preços e qualidades ajustadas entre as partes. Situação agravada pelo encolhimento da oferta de crédito por parte do sistema financeiro, destinado às empresas exportadoras, devido aos riscos atualmente por elas carregados.

O desmonte da arquitetura financeira de gestão do risco da comercialização do café, trará desafios econômicos para os cafeicultores. A perda de liquidez, por aversão dos investidores a esse mercado, torna-se mais instável as cotações (aumento da volatilidade) e aos fenômenos incompreensíveis, como preço do físico acima das cotações futuras (inversão mencionada). Sem essa estrutura financeira operando, se reduz os horizontes econômicos para o planejamento da atividade.

Bons preços favorecem a expansão da cafeicultura do mundo todo. No Brasil, viveiristas contabilizam como principal destino das mudas os novos plantios frente a talhões em processo de renovação. Ademais, os bons resultados econômicos obtidos permitiram expansão das tecnologias aportada às lavouras como: irrigação, nutrição e sanidade de alta eficiência agronômica, podas de condução que, em conjunto ou isoladamente, prepararão a cultura para incrementar a oferta de curto prazo do produto. Ou seja, o contexto atual prepara o seu oposto, representado pelo inevitável ciclo de baixa.

Tanto o governo capixaba como o rondoniense aceleram seus programas de expansão do plantio de canéfora (conilon e robusta). Em São Paulo, há imenso esforço público que se somam aos privados, pela expansão da oferta local de robusta. Há estimativas consistentes de que na próxima década, o Brasil, passe a congregar também o título de maior produtor de canéfora do mundo, ultrapassando as 30 milhões de sacas vietnamitas. 

Ainda que a procura pela bebida se incremente a taxas superiores e as possibilidades e capacidades de ampliação da oferta (considerando que os distúrbios climáticos já estejam afetando a potencialidade das lavouras), tal ritmo expansão do cultivo empurrará as cotações para baixo, ainda, mais, vindo com força do segmento canéfora. 

Uma marca consolidada nos mercados de commodities, consiste em seu regime cíclico de preços. Em sendo uma cultura perene, a lavoura cafeeira exige entre três e quatro anos para que se obtenham colheitas significativas e, ainda, considerando o prazo de produção tanto da obtenção das sementes como de formação das mudas, esse ciclo pode contabilizar ondas de cinco a sete anos, entre os picos de preços e seu acentuado declínio.  

Tanto exportadores como cafeicultores terão que reposicionar suas estratégias/planejamento comercial. No primeiro caso, a busca por mecanismos de garantia de suprimento futuro por meio de contratos e por outros mecanismos de aproximação com os cafeicultores. Para o segundo grupo, somente a melhoria da qualidade e da produtividade das lavouras para incrementar a competitividade do produto. Felizmente, a cafeicultura brasileira tem sido capaz dar mostras de que com tecnologias agronômicas e aplicação de protocolos de sustentabilidade, alçará patamares produtivos ainda mais robustos. 

Enquanto limitação dessa análise, deve-se alertar que a construção de cenários plausíveis, a partir das tendências pregressas, ficou seriamente comprometida após o surgimento da pandemia de COVID-19. Muitos indicadores perderam aderência ao funcionamento real das estruturas socioeconômicas, dificultando muito as possibilidades de projetar o futuro desse ou de qualquer outro mercado.

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr., MS., Pesquisador Científico VI do IEA

celvegro@sp.gov.br 

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