T Ó P I C O : O Fracasso da Onipotência - Por Celso Vegro
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O Fracasso da Onipotência - Por Celso Vegro
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 21/11/2025 20:29:51
Leonardo Assad Aoun comentou em: 21/11/2025 20:14
O Fracasso da Onipotência - Por Celso Vegro
O pensamento verdadeiramente liberal não pode ceder às tentações populistas que por arbítrio, instauram desgoverno e instabilizam os mercados. Eis o posicionamento de um liberal histórico:
“quando alguém diz, vamos impor tarifas sobre importações estrangeiras parece que estão fazendo algo patriótico, protegendo os produtos e os empregos americanos. E, às vezes, por um curto período isso funciona, mas apenas por um tempo. O que eventualmente acontece é que, as indústrias nacionais começam a depender da proteção do governo na forma de tarifas altas. Elas param de competir e deixam de fazer as mudanças inovadoras na gestão e na tecnologia que precisam para ter sucesso nos mercados globais. E então, enquanto tudo isso está acontecendo, algo ainda pior ocorre. Tarifas altas inevitavelmente levam à retaliação por parte de países estrangeiros e ao desencadeamento de intensas guerras comerciais. O resultado são mais e mais tarifas, barreiras comerciais cada vez mais altas e menos concorrência. Então em pouco tempo, devidos aos preços artificialmente elevados pelas tarifas que subsidiam a ineficiência, e a má gestão, as pessoas param de comprar. E então acontece o pior os mercados encolhem e colapsam, empresas e indústrias fecham e milhões de pessoas perdem seus empregos. A memória de tudo isso nos anos 30 acontecendo me fez determinado, quando cheguei a Washington, a poupar o povo americano da legislação protecionista que destrói a prosperidade. Agora, nem sempre tem sido fácil. Há aqueles no Congresso, assim como havia nos anos 30, que querem buscar a vantagem política rápida, arriscando a prosperidade da América em prol de um apelo de curto prazo a algum grupo de interesse especial”.
Ronald Regan
(discurso proferido em 1987)
Essa longa digressão corrobora com toda a teoria econômica elaborada em torno do emprego de tarifas para proteção da produção do mercado interno. O Brasil, no século passado, foi um exímio praticante desse tipo de política com o esforço de industrialização por meio da substituição de importações. Essa decisão desenvolvimentista provocou a década perdida (anos 80 sem crescimento do PIB) e os voos de galinha (anos 90 e períodos dos anos 2010). Ademais, tornou o país um dos mais fechados ao comércio internacional no ranking daqueles que exibem as maiores correntes de comércio (soma das exportações e importações).
Deve-se enaltecer a firme postura do governo brasileiro que em nenhum momento ameaçou com retaliações a escalada tarifária imposta contra o país. Nisso o mandatário brasileiro cumpriu exatamente aquilo que Nietzsche profetizou:
“o que luta contra monstros deve ter cuidado para não se tornar também monstro”
A parcimônia diplomática e o correr do tempo foram decisivos para a revogação das tarifas, para parte importante da pauta exportadora brasileira para os EUA. As duas conversas entre os mandatários dos dois países seguidas pelos encontros com o vice-presidente e o chanceler brasileiro com seu congênere estadunidense, representaram momentos cruciais na reversão do tarifaço.
Sem dúvida que o mandatário estadunidense compreendeu que comprou uma briga perdida. A pressão inflacionária no mercado doméstico corroeu sua popularidade e colocou em risco a dominância republicana sobre a política interna.
Enquanto, Marco Rubio subsidiou decisões equivocadas para Trump, Richard Grenell (enviado especial do Trump) trouxe outra análise dos fatos do Brasil para seu presidente. O comunicado oficial menciona explicitamente que a reversão do tarifaço constitui em um puxão de orelhas do mandatário estadunidense sobre sua diplomacia (Rubio), mencionando explicitamente que a retirada do tarifaço foi conquistada pelo excelente diálogo entre as autoridades de ambos os países.
Tudo que os EUA não compraram do Brasil, outros mercados passaram a comprar (dança das cadeiras). Ser taxado pelos EUA, permitiu ao país diversificar ainda mais seus clientes internacionais e incrementar a presença brasileira no rol das nações cruciais para a estabilidade e paz mundial, algo cada vez mais decisivo na produção de maior e mais sustentável riqueza para o conjunto da população.
A revogação do tarifaço para 120 itens agrega US$ 5 bilhões as exportações brasileiras. Porém, as negociações ainda durarão ao menos 90 dias para que toda a pauta comercial seja desbloqueada e, dependerá da desoneração de produtos americanos atualmente aqui taxados.
Há uma expressão latina que diz muito sobre a forma do presidente americano governar: Ad nutum, ou seja, governar segundo a vontade, pelo arbítrio. Estado não é empresa e a lógica da conciliação por meio da política bem praticada é o caminho para o avanço civilizatório.
Celso Luis Rodrigues Vegro
Eng.Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA
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