T Ó P I C O : Depois de mais de 30 anos, Fazenda Califórnia volta a produzir café
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Depois de mais de 30 anos, Fazenda Califórnia volta a produzir café
Autor: Sérgio Parreiras Pereira
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Último comentário neste tópico em: 19/04/2011 18:29:52
Sérgio Parreiras Pereira comentou em: 19/04/2011 18:29
Depois de mais de 30 anos, Fazenda Califórnia volta a produzir café
Depois de mais de 30 anos, Fazenda Califórnia volta a produzir café
- 18.04.11
- TEXTO Erik Bernardes
- Fotografia Felipe Pagani
Porta de entrada para a colonização do Norte do Paraná a partir do final do século XIX, o Norte Pioneiro viveu grande sucesso com a produção de café até os anos 1970, quando após um evento que ficou conhecido como “geada negra” os cafeeiros foram dizimados e passaram a ser substituídos pela cana de açúcar e outras culturas que se destacavam na época. Antes disso, a promissora cafeicultura da região atraiu a atenção de investidores estrangeiros e, no início do século XX, o grupo californiano Leon & Israel assumiu o controle da produção de cafés da Fazenda Califórnia, localizada na cidade de Jacarezinho. Com latitude, altitude e temperatura ideais para a produção de cafés especiais, a fazenda carrega uma história de sucesso e declínio e vive agora um momento de retomada.
Quando gerida pelo grupo norte-americano a fazenda viveu um período de grandes investimentos. Projetos de instalações e equipamentos desenvolvidos na Universidade da Califórnia, maquinário para processamento do café, equipamentos médicos e ortodônticos, além de uma central telefônica e do livro de contabilidade, todos preservados pelo engenheiro agronômico Luiz Roberto Saldanha Rodrigues e sua esposa Flávia Rodrigues, atuais proprietários da Califórnia, indicam a fase áurea da propriedade. “Todos esses equipamentos nos dão uma ideia do quanto esse grupo administrava a fazenda com profissionalismo e muito investimento. Nossa proposta é criar um museu como forma de homenagem à história dessa fazenda”, conta Luiz.
DESVIO NA HISTÓRIA
Em 1975, após a “geada negra”, a cultura da cana de açúcar invadiu a região em busca da fertilidade do solo, a famosa terra roxa. Com isso, a cana dominou as propriedades, que ficaram arrendadas nas mãos de usinas de açúcar e álcool. O café, nessa época, perdeu sua posição de destaque na economia de Jacarezinho. A Fazenda Califórnia, assim como muitas outras na região, foram cobertas por cana, e os tempos de riquezas – que antes pareciam melhor distribuídas, segundo a população local – deram lugar a um tempo de grandes dificuldades. Para se ter ideia, atualmente, a cidade não possui sequer uma agência de veículos e também não conta com médicos especialistas na rede pública de saúde, mesmo somando mais de 40 mil habitantes, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE).
CERTIFICAÇÕES E FORMAÇÃO
O ressurgimento da fazenda no cenário da cafeicultura começou em 2004, quando Luiz e Flávia mudaram para a cidade de Jacarezinho e assumiram a gestão. Desde o início o pensamento era atingir um nível elevado de qualidade, com certificações e fortalecimento da marca Café do Norte Pioneiro. “A Fazenda Califórnia, hoje com 220 hectares de café e uma produção que deve chegar a 7 mil sacas esse ano, é uma empresa familiar, com gestão profissional. Desde o princípio, quando começamos a pesquisar sobre o café, pois não somos cafeicultores por tradição, percebemos a necessidade de trabalhar buscando as certificações, como a UTZ Certified [programa mundial de certificação para a produção e o fornecimento de café responsável], que alcançamos na safra de 2007”, explica o engenheiro agrônomo.
A umidade relativa do ar, um pouco mais elevada do que em regiões como o Cerrado Mineiro, demandou cuidados especiais na secagem dos grãos. A terra roxa e o relevo, por outro lado, são aliados importantes na obtenção de um produto com qualidade. Um ponto determinante nesse desafio, porém, foi encontrar mão de obra qualificada para a colheita e beneficiamento na região, que há tempos não formava trabalhadores especializados nessa cultura. “Contratamos uma equipe e passamos a capacitar esses trabalhadores. De 2004 em diante foram mais de 50 cursos junto ao Senar [Serviço Nacional de Aprendizagem Rural] e todos os anos reforçamos essa capacitação com cursos de aperfeiçoamento ou novos”, explica Luiz.
AGENTES DE TRANSFORMAÇÃO
Atingir o nível de certificação não acomodou os proprietários. Ao contrário, eles vislumbraram a possibilidade de transformar a cafeicultura da região e reacender a cultura de café. Para isso, desenvolver produtos de qualidade e batalhar sua promoção era fundamental. A criação da Associação de Cafés Especiais do Norte Pioneiro do Paraná (Acenpp) teve esse intuito e, hoje, com 102 associados entre pequenos e médios produtores, a associação luta pelo fortalecimento da produção desse café, visando cooperativismo, certificações das propriedades, identificação geográfica e, futuramente, a denominação de origem.
De acordo com Rodrigues, atualmente, entre 30% e 40% da produção da Califórnia é de cafés especiais. Para atingir esse patamar, no entanto, muito trabalho e dedicação foram necessários, além da lavoura. “Trabalhar as pessoas daqui foi determinante, não apenas com a capacitação, mas também oferecendo qualidade de vida e educação às famílias”, explica o produtor.
A Fazenda Califórnia proporcionou aos trabalhadores um projeto que gerou resultados. Além do atendimento médico, não há analfabetos na propriedade, devido a um programa de alfabetização de adultos. A repetência escolar entre as crianças, que antes era um problema, chegou a zero graças ao reforço educacional. “Entendemos que as crianças são os grandes agentes de transformação, pois quando conseguimos mostrar a elas a importância do estudo e de coisas simples como a reciclagem, por exemplo, elas cobram suas famílias e modificam a comunidade em que vivem”, conclui Flávia. Para o futuro, a dificuldade que encontraram com mão de obra não deverá ser problema na região. Entre os adolescentes que vivem na fazenda, dois seguiram estudos em escola técnica agrícola e já sonham em trabalhar com os cafés especiais da Califórnia. Marcelo e Sergionei, ambos com 17 anos, são exemplos de que é possível, com profissionalismo e dedicação, alcançar as credenciais que a Fazenda Califórnia retoma com domínio, para ressurgir no cenário nacional de cafés especiais.
Conheça as nuances do café do Norte Pioneiro:
Equilibrado, com corpo e acidez médios, finalização prolongada e doce. Atributos: chocolate, caramelo, frutado, cítrico e melaço. |
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