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T Ó P I C O : Certificação Fair Trade - Questão de Justiça e de um bom café

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Comentários do Tópico

Certificação Fair Trade - Questão de Justiça e de um bom café


Autor: Antonio Sergio Souza

19.629 visitas

48 comentários

Último comentário neste tópico em: 06/02/2012 17:04:31


Antonio Sergio Souza comentou em: 12/12/2011 11:29

 

Certificação Fair Trade - Questão de Justiça e de um bom café

 

THE NEW YORK TIMES
12/12/2011 
 
A Fair Trade USA quer aprovar mais produtos para ajudar mais produtores, diz o presidente Paul Rice
 
Por WILLIAM NEUMAN

Uma polêmica estourou no movimento do "comércio justo", que se propõe a tirar camponeses da pobreza nos países em desenvolvimento, ao lhes oferecer um preço adicional por produtos como café, cacau e bananas. A Fair Trade USA, principal entidade desse movimento nos EUA, irritou críticos ao anunciar sua decisão de romper com o mais importante grupo mundial do comércio justo e de fazer amplas mudanças na lista de produtos que recebem o seu selo de aprovação.

As mudanças incluem dar a designação de comércio justo ao café de grandes plantações, o que era proibido. A entidade também quer colocar seu selo em produtos que tenham 10% de ingredientes vindos do comércio justo, enquanto em outros países o limite é 20%.

O grupo diz que as mudanças irão beneficiar mais camponeses e trabalhadores pobres no mundo todo, e estimulará grandes empresas a venderem mais produtos do comércio justo. Em 2010, as vendas de produtos desse tipo alcançaram US$ 5,8 bilhões em nível mundial, e US$ 1,3 bilhão nos EUA. A Fair Trade USA disse que pretende duplicar suas vendas até 2015.

Críticos acusam a Fair Trade USA de atenuar suas regras, motivada talvez pela perspectiva de receber maiores comissões. Alguns vendedores de produtos do comércio justo temem que pequenos cafeicultores percam seu espaço no mercado para as grandes plantações, e que as empresas tenham um incentivo para incluir em seus produtos apenas um mínimo de ingredientes vindos do comércio justo.

"É uma traição", disse Rink Dickinson, presidente da Equal Exchange, de Massachusetts, pioneira importadora de café, chocolate, chá e bananas do comércio justo. "Eles [Fair Trade USA] perderam sua integridade."

Paul Rice, presidente da Fair Trade USA, rejeitou as críticas de que estaria querendo aumentar seu faturamento. "Quanto mais aumentarmos o volume, mais poderemos aumentar o impacto [do comércio justo]", afirmou.

Segundo ele, a Fair Trade USA paga comissões exageradas à Fairtrade International -cerca de US$ 1,5 milhão no ano passado- e recebe pouco em troca.

Rob Cameron, presidente da Fairtrade International, disse que a organização não vai rebaixar seus padrões. "O melhor que podemos fazer é garantir que iremos permanecer fiéis aos princípios que nos trouxeram até onde estamos", disse ele.

A polêmica tem surpreendido muitas empresas que vendem produtos do comércio justo. Para os consumidores que prestam atenção à origem e à forma de produção da sua comida, o resultado pode ser uma confusão diante da proliferação de selos concorrentes de comércio justo.

O café, que Rice disse representar mais de 70% do comércio justo nos EUA, é o produto que está no centro dessa disputa.

A torrefação Green Mountain, que se autodenomina o maior comprador mundial de café do comércio justo, disse que vai continuar trabalhando com a Fair Trade EUA, e que pretende aumentar a quantidade desse café na matéria prima usada.

A empresa está participando com a Fair Trade USA num projeto-piloto que envolve um cafezal orgânico de 200 hectares no Brasil -lavoura que anteriormente seria grande demais para receber o certificado de comércio justo.

"Nosso atual compromisso com os pequenos agricultores continua intacto", disse Sandy Yusen, assessora de imprensa da Green Mountain. Ela disse que em 2010 a empresa pagou US$ 1,5 milhão em taxas de licenciamento para a Fair Trade USA.

A Starbucks, que tem cerca de 11 mil lojas nos EUA, também disse que pretende manter sua parceria com a Fair Trade USA. Mas a rede afirmou que ainda não decidiu se colocará o selo de comércio justo no café oriundo de grandes propriedades. Segundo a rede Starbucks, cerca de 8% do café usado em 2010 nas suas operações no mundo todo vieram de lavouras ligadas ao comércio justo.

Mais de 20 países têm organizações que concedem os selos de comércio justo. A Fairtrade International tem um logotipo padrão que aparece nas embalagens na maioria dos países.

A maioria dos programas de comércio justo no mundo já aceita bananas, chá e flores cultivados em grandes propriedades. Mas, tradicionalmente, o café e o cacau do comércio justo vêm de pequenas propriedades organizadas em cooperativas. Os produtores recebem um adicional para usar em projetos comunitários, como escolas e ambulatórios.

Seth Goldman, cofundador da Honest Tea, que já pagou US$ 37 mil para licenciar chás junto à Fair Trade USA, disse que a polêmica levou sua empresa a examinar mais de perto o funcionamento do comércio justo. Ele disse que a disputa é uma confusão, mas acrescentou: "Abrir uma lata de minhocas nos dá uma chance de entender o que há dentro da lata". 

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Sergio Parreiras Pereira comentou em: 12/12/2011 13:03

 

Reitero que sou contrário.....

 

Saudações Cafeeiras....

 

Venho manifestar-me contrariamente em relação novo política da TransFair (hoje Fair Trade USA)  de liberar para grandes cafeicultores (patronais) a inserção no selo FairTrade.  

Hoje já é possível grandes produtores participarem de associações familiares e venderem seus cafés com o grupo, mas o volume tem que ser mais de 51% da agricultura familiar.

O Comercio Justo e Solidário é um movimento da sociedade civil organizada que dá preferência de compra (e paga um diferencial de preço ) por artigos agro-alimentares produzidos de forma artesanal por agricultores familiares. A abertura para grades agricultores (isolados) é uma quebra da identidade e dos princípios do Fair Trade mundial.

Se grandes corporações resolverem certificar Fair Trade poderá ocorrer um encharcamento do mercado (mesmo com demanda crescente) destes cafés o que causará sérios problemas a agricultores familiares de todo mundo.

Liberando para grandes produtores, qual será a diferença entre os cafés certificados pela TransFair USA e outros programas como de certificação ? ? ?

São questões a seres levantadas....

Reitero que sou contrário..... 

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Sergio Parreiras Pereira comentou em: 12/12/2011 13:06

 

Para saber mais sobre o Comércio Justo e Solidário:

 

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Augusto Cesar Freitas de Souza comentou em: 12/12/2011 13:20

 

Tiro no pé !

 

Essa decisão , só irá fazer aumentar o volume de fair trade brasileira e diminuir e dificultar os negócios ainda mais dos cafés fair trade brasileiros , hoje em dia a concorrência com outros países que têm fair trade e também são orgânicos já é enorme .

Na minha opnião a certificadora , deveria tentar promover a qualidade do café certificado brasileiro , tanto a nível nacional , preparando melhor o produtor na pós - colheita , como também divulgar a qualidade de nosso café lá fora .

Os grandes produtores já têm ferramentas suficientes de comercialização .

 

Augusto Cesar Freitas de Souza

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Juliano Tarabal comentou em: 12/12/2011 16:03

 

No minimo contraditório

 

 

Esse posicionamento da Organização Fair Trade USA contraria totalmente os principios do Fair Trade. Os argumentos utilizados não fazem sentido. Aumentar volume pra aumentar impacto não faz parte e não condiz com os principios. Trata-se de uma certificação que hoje beneficia uma fatia crescente de produtores que nao tem acesso ou nao podem investir em outras certificaçoes por "n"motivos. Igualar as condiçoes neste caso para que grandes produtores possam se certificar deturba totalmente os valores do Fair Trade e o consumidor vai punir isso não mais comprando produtos com este selo. Ou sera que esta organizaçao nao compreende que hoje quem determina a demanda são os consumidores que hoje mais do que nunca possuem voz.

 

Este assunto merece aqui um debate com participaçao de lideranças da cadeia café, para que este movimento nos EUA nao cresça.

 

Juliano Tarabal

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Henrique Souza Dias comentou em: 12/12/2011 17:57

 

Fair Trade

 

A justiça tem que valer para todos! É preciso acabar com essa demgogia de querer tutelar

e proteger o pequeno produtor. A maior parcela da produção mundial, fora o Vietnam, vem de

grandes produtores.Todos merecem o comércio justo, cumprindo o programa.

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Pedro Vinícius Charlois Nogueira comentou em: 12/12/2011 22:07

 

Fair Trade, e Outras Certificações

 

         "Com certeza, concordo como os colegas, que  o selo Fair Trade deve permanecer com produtores familiares.

           Os grandes produtores tem a disposição outros tipos de selos reconhecidos. Porém esses selos, ainda, são praticamente inatingíveis para os produtores familiares, levando em conta o alto custo. Hoje, selos como UTZ, começam a abrir portas para associações interessadas em certificar grupos distintos, diminuíndo custo para o produtor obter o selo. Porém ainda é só o começo, e não se sabe se atingirá produtores familiares no geral, além ainda de não possuir o mesmo carater Fair Trade."

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Sergio Parreiras Pereira comentou em: 13/12/2011 06:38

 

Reitero meu ponto de vista...

 

Amigos da Comunidade Manejo,

Saudações Cafeeiras....

As idéias conflitantes ampliam o debate!  Agradeço os comentários....

Conforme mencionado temos hoje no mercado internacional muitos programas de certificação sócio ambientais: Utz Certified, Orgânico,  Rainforest Alliance, Certifica Minas Café, Amigos dos pássaros...A verificação da 4C Association e outros programas ligados à grandes empresas como o AAA da Nespresso e o C.A.F.E. Pratices da Starbucks.....

Destes somente o Fair Trade é voltado a agricultores familiares. E não exclusivamente destes, pois como mencionei 51% do volume comercializado deve ser de cafeicultores familiares, os demais 49% podem ser de agricultores maiores, dentro da mesma associação. O que a TransFair está mudando é abrir a possibilidade de auditar e certificar grandes cafeicultores isolados, sem que estejam ligados á uma associação. Estas associações revertem parte do sobre preço para projetos comunitários, cuja prioridade é elencada em plenária entre os participantes do grupo.  Por exemplo, pode ser um dentista duas vezes por semana para os associados, uma sala de informática de uso comum, uma biblioteca, um caminhão para “limpar” café.

Tenho rodado muito em associações de cafeicultores familiares pelo Brasil, entre elas algumas com certificado FairTrade. O ganho social destas comunidades é inquestionável.

No meu entendimento o Fair Trade deveria manter seus princípios de comercializar produtos da agricultura familiar. A essa altura do campeonato, mudar as regras seria “enganar” o consumidor que acredita (devido ao selo)  estar consumindo um café da agricultura familiar.  Romper este “acordo” seria ir contra as associações organizadas já certificadas.

A TransFair (FairTrade USA), buscando maior oferta destes cafés poderia apoiar a organização e articulação de novas associações de cafeicultores familiares.

Reitero meu ponto de vista e respeito outros.....

Abraço 

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Sérgio Pedini comentou em: 13/12/2011 07:57

 

Traição

 

Concordo com a maioria das manifestações dos colegas e principalmente de Rink Dickinson, quando diz que isso é uma traição. Traição aos produtores familiares que dependem disso, traição aos princípios originais do fair trade e traição a todo um sistema alternativo criado como contraponto ao mercado convencional, excessivamente commoditizado, concentrador e monopolista. Não é apenas a valorização do produtor familiar que está em jogo, mas toda uma proposta alternativa que aponta para caminhos mais justos e sustentáveis.

É óbvio que nem todo americano tem a insenbilidade neoliberal do mundo moderno, mas sinceramente não esperava isso de uma certificadora e como é americana, acaba por corroborar essa tendência. Quem tem dúvida de que precisamos inovar nas relações comerciais, basta olhar em volta. Crise internacional? De quem? Do mercado de capitais, de grandes bancos e corporações. Sem contar a crise ambiental que nos empurra ladeia a baixo. O fair trade resolve tudo isso? Só um ingênuo acreditaria nisso, mas precisamos de inovações, propostas alternativas e, por que não, mais gente sonhando.

Como brasileiros, acho que temos que nos orgulhar dos grandes produtores de café, pois nos projetam há décadas no cenário internacional, mas já existem sistemas de certificação socioambiental suficientes que valorizen sua produção diferenciada. E qual deles valoriza a produção familiar especificamente? Apenas um! E ainda querem sequestrá-lo desse público que merece uma atenção especial e que, por exemplo, tem uma taxa de adimplência superior aos demais.

Mas pelo menos o debate está aberto e até mesmo compradores de café estão contra. Esperamos que prospere. E parabéns, mais uma vez, ao Peabirus por proporcionar este espaço!

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Wylsel S. Sacramento comentou em: 13/12/2011 10:33

 

Realmente absurdo!!

 

Enquanto o produtor familar levou - e leva - tempo lutando dia a dia para conquistar algumas possibiildades e reconhecimento pelo árduo trabalho que realizam para o seu sustento e a garantia de um amparo legal para continuar motivado, usurpadoras cabeças e olhos investigam maneiras de se utilizar deste pequeno privilégio conquistado com sangue e suor, e que nasceu para atenuar os problemas dos que não encontravam com facilidade acesso a um público que só não se utilizava dos seus produtos por não existir esta ferramenta.

Agora, esse pequeno produtor precisará redobrar seus esforços - ainda mais, no intuito de merecer uma outra ferramenta que volte a destacá-lo como produtor zeloso de uma matéria diferenciada. E quem sabe talvez, assim consiga como cobaia (mais uma vez) para os estudos de certificações que "deram certo", trazer mais uma nova certificação de alguma coisa para os grandes produtores que comparão - inclusive - o seu produto...?

É indignante isso!

Quando essas famílias poderão finalmente entender o que realmente o mundo acha sobre o trabalho que realizam e ter certeza de que o que fazem realmente é precioso?

Conheço o trabalho de alguns produtores como estes aqui na Bahia, e sei o quanto sonham com a possibilidade de uma certificação como esta, sei como acreditam enquanto trabalham muito, que um dia poderão realmente ter o ganho que merecem e o reconhecimento pela sua dedicação e persistência. E hoje terão que se dedicar mais e persistir muito mais, caso não queiram desaparecer depois de tanto tempo de luta.

Absurdo.

A todos, abraços café e muita paz.

W y l s e l  S . S a c r a m e n t o
B a r i s t a

e-mail: 9bar.br@gmail.com
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