T Ó P I C O : Agrônomo de Botucatu, François, defende políticas agrícolas mais efetivas
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Agrônomo de Botucatu, François, defende políticas agrícolas mais efetivas
Autor: Carla de Pádua Martins
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Último comentário neste tópico em: 22/04/2012 09:36:18
Carla de Pádua Martins comentou em: 22/04/2012 09:30
Agrônomo de Botucatu, François, defende políticas agrícolas mais efetivas
François Regis Guillaumon, 64, engenheiro agrônomo, natural de Botucatu, chegou a Marília ainda com dez meses de idade. Casado com Regina Aparecida Galletti Guillaumon tem três filhos e dois netos. Atua na Coopemar (Cooperativa dos Cafeicultores da Região de Marília) há 38 anos e há 28 anos ocupa o cargo de presidente da cooperativa.
Ele ainda é vice-presidente da Femecap (Federação Meridional de Cooperativas, além de ser presidente do Sindicato das Cooperativas Agropecuárias do Estado de São Paulo. É ainda presidente da Associação de Reflorestamento.
Durante a entrevista o engenheiro fala sobre a qualidade do café produzido na região. Ele pontua ser necessária uma política mais efetiva de apoio à agricultura. Guillaumon fala também do preço do produto e da expectativa de colheita.
Como é desempenhar o papel de presidente de uma Cooperativa como a Coopemar?
A cooperativa passou por diversos momentos e cada um deles exige um papel. Na fundação estávamos crescendo, então era registrado muito movimento. Nesta etapa o trabalho era voltado para a conquista de política agrícola com viagens a Brasília. Atualmente é muita administração. É claro que não tem como administrar a cooperativa sem estar ligado à secretaria e Ministério da Agricultura. E por outro lado não podemos deixar de lado as necessidades dos cooperados.
Éramos em três diretores e há oito anos passou para dois. Então o papel do presidente que era um pouco mais político voltou a ser mais administrativo. Temos que dividir o tempo com os compromissos decorrentes dos cargos nas associações que demandam viagens. Além disso, a parte financeira também é de minha responsabilidade.
Também temos que nos empenhar na organização de dois eventos no ano. O evento que destaca o café começa em abril com a colheita e tem o fechamento em outubro com o concurso dos melhores produtos. Fora isso, geralmente em setembro temos o Encontro de Pecuaristas em que são apresentadas novas tecnologias.
Além disso, realizamos o trabalho de visita nas filiais em Ocauçu, Vera Cruz, Pompeia, Paraguaçu Paulista e Echaporã.
Quais as principais dificuldades enfrentadas pelo setor?
A maior dificuldade que nós temos é a política governamental, porque precisamos acompanhar e quem dita as regras do jogo é o governo. Primeiramente são muitos impostos, desta forma o produtor não consegue arcar com os valores e começa a dever na cooperativa. Outra coisa é que quando você não tem uma política correta o preço fica abaixo do esperado. Por exemplo, o produtor de leite, hoje, sofre porque o litro sai por R$ 0,80 quando há 30 anos era comercializado a R$ 50. O preço do alimento era o mesmo do litro de óleo diesel, hoje este custa R$ 1,80 e o leite sai por R$ 0,80.
Enfim, para todos os produtos falta uma política agrícola mais agressiva. Mesmo que os juros tenham diminuído no país, ainda é considerado caro para agricultura.
Na cooperativa temos outro problema, porque procuramos vender por um preço mais correto e mais em conta que a todo o mercado. Desta forma alguns são contrários a cooperativa porque acham que estamos vendendo barato. Outro diferencial é que a cooperativa vende tudo com nota fiscal e há empresas que não fazem isto. Infelizmente não tem a fiscalização devida nas firmas. O governo deveria agradecer por as cooperativas fazerem este serviço por ele, mas não tem sido assim. Hoje não existe nenhum plano e incentivo para o cooperativismo, nem do Ministério da Agricultura, Secretaria da Agricultura e muito menos na administração municipal.
O que poderia ser feito pelo governo para apoiar o setor?
Um exemplo são planos de financiamento que podem ser utilizados para novas tecnologias em cooperativas. Antigamente o governo ajudava no feitio das mudas e entrega do corretivo do calcário. Em algumas prefeituras , não é o nosso caso, existe um convênio que colabora com a confecção das mudas de café para a cooperativa vender ainda mais barato e desta forma aumentar o parque cafeeiro.
Qual a relação com a administração?
Nós tínhamos um convênio com a prefeitura, inclusive mantínhamos um viveiro de plantas nativas dentro da Secretaria da Agricultura, mas não quiseram mais que nós permanecêssemos lá. Este trabalho acabou há oito anos, na época tínhamos 300 mil mudas nativas. Era uma muda que poderia ser entregue mais em conta para o agricultor, mas não quiseram, pois não vêem a cooperativa com bons olhos.
Em alguns municípios existem convênios em que a prefeitura paga metade do preço da muda de café para ser entregue ao produtor mais barato. Hoje nós vendemos as mudas a preço de custo, ou seja, R$ 0,40, mas se tivesse um convênio com a administração nós iríamos vender a R$ 0,20. O que poderia ocorrer é que depois de uns três anos a prefeitura poderia ter uma arrecadação maior porque estaria produzindo mais café.
Mas todo este panorama não é visto, tanto é que a situação das estradas de Marília hoje é péssima. É outra coisa que a prefeitura deveria nos ajudar, não só a cooperativa, mas a agricultura em geral.
Qual o balanço para o setor cafeeiro nos últimos anos? Qual o número de sacas colhidas em 2011?
Na década de 70 a cafeicultura em Marília era muito forte, só que no final tivemos uma geada, o que terminou na diminuição do parque cafeeiro. Quando o setor estava recuperando nos deparamos com uma praga muito forte que era o nematóide, não existia nada no Brasil que combatesse a praga. Desta forma nós desenvolvemos um trabalho junto ao Instituto Agronômico de Campinas, que foi culminar em meados da década de 80 numa muda resistente a nematóide. Então nasceu aqui em Marília a solução, onde você for hoje você encontra a muda resistente. Já em 1990 tivemos uma época ruim, inclusive com movimentos como o “Alertaço”.Nós fomos a Brasília, o movimento era grande porque os agricultores realmente estavam quebrados. Na ocasião, aqui em Marília nós fechamos todos os bancos por um dia. Foi aí que o governo prestou atenção à gravidade da situação e lançou alguns planos. Só que a tributação é muito grande.
Nos últimos cinco anos tem melhorado o café e agora estamos numa faixa que caiu o preço.
Todo ano, já é histórico, o Brasil ter pelo menos uma colheita em estoque. Então se eu colho 50 milhões de sacas eu teria que ter a mesma quantidade no estoque. Atualmente eu tenho apenas cinco milhões, o que é muito pouco. As pessoas podem pensar que isto é bom, já que quando falta o produto, a lei da oferta e procura, aumenta o preço. Hoje o mundo consome 115 milhões de sacas por ano. Então se ocorrer algum problema climático como seca e geada nós teremos um problema, a falta do produto no mundo. Isto não pode, já que temos notado o aumento de 3% a 4% no consumo anual da bebida. Nós saímos de 12 milhões de sacas e hoje estamos nas 19 milhões no Brasil. Se nós estamos produzindo 19 milhões chegamos perto do 50% do consumo no país. A estimativa é que em 2020 nós vamos consumir de 22 a 25 milhões de sacas. Então temos que aumentar nossa colheita. Porque o que ocorre, o japonês e chinês que antes eram adeptos somente ao chá e suco de laranja começaram a tomar café, mas se faltar eles voltam para as bebidas de origem e nós podemos perder este mercado. Não podemos encher de café, até por ser uma lavoura cara, mas não podemos deixar de ter o produto em quantidade razoável. No ano passado na região foram colhidas 500 mil sacas distribuídas em mil propriedades.
Qual a expectativa para a produção neste ano? Esta cultura perdeu a força ou ainda continua forte na região?
A expectativa é que sejam produzidas ao menos 600 mil sacas. O café ainda é forte no Brasil. Sempre foi o primeiro produtor do grão e prossegue nesta posição e há muito tempo, além de ser o segundo consumidor. Mas atualmente o Brasil também exporta na mesma proporção soja e suco de laranja. Além de estar entre os quatro primeiros na exportação de carne. É também o maior produtor de combustível verde. Aqui na região temos muitas áreas que deixaram de receber plantação de café para receber soja, reflorestamento e cana de açúcar. Devido as dificuldades ambientalistas, trabalhistas e terceiro tributário muitos partiram para outros setores. Mas em Marília é considerado como a principal cultura, seguido da pecuária.
Na questão trabalhista temos a seguinte dificuldade, na área urbana o empregador não precisa se preocupar com a moradia do funcionário e na zona rural é diferente e o proprietário é obrigado a ceder uma casa. Sendo que na cidade temos os programas habitacionais, financiamentos que não chegam no campo.
No caso da mão de obra existem menos problemas relacionadas as más condições de trabalho. O que deve ocorre daqui para frente é falta de mão de obra para novas culturas como citricultura, principalmente para colheita. O principal é que o governo prefere inchar as cidades do que investir no campo e tentar levar o homem para lá.
Como está o preço do produto, o que tem influenciado este valor? E o preço final para o consumidor?
Há dois anos vendíamos a saca do café a R$ 620, hoje comercializamos a R$ 350 e esperamos que volte ao normal. Para o consumidor não baixou. É claro que se o café começar a subir, nas prateleiras a alta também será notada, quando o valor de comercialização para o consumidor baixa com menor intensidade.
O que faz e quais os serviços prestados na cooperativa?
Enquanto uma firma simplesmente vende o produto a cooperativa distribui e comercializa o café, só que ela tem agrônomo e departamento técnico que vai buscar as novas tecnologias. Não existe nada no meio comercial que faça este trabalho e como isso custa, quem tem que pagar é o cooperado.
Nós tentamos oferecer todo o serviço que o cooperado precisa, por isso temos agrônomos no campo para coletar as necessidades. Como é o caso do amendoim, começamos a trabalhar com este produto exatamente porque os cooperados soliticitaram. No ano passado já recebemos 15 mil sacas de amendoim e em 2012 já dobrou esta quantidade. Por isso iniciamos o trabalho com o produto em Pompeia.
Na cooperativa oferecemos assistência técnica, tanto agronômica como veterinária. Temos também convênio com Unimed com mais de 1.400 usuários. O cooperado aqui também utiliza a flora de reflorestamento de muda nativa e exótica. Além de trazer palestras do que ele pode ou não fazer na área trabalhista, além das novidades do setor.
Então somos em 15 pessoas que além de ajudar na administração e fiscalização estão recebendo informações dos cooperados para saber o que nós precisamos.
O relacionamento é ótimo com todos os 1.520 cooperados. Na região são mil cafeicultores. São assistidas mais de 200 mil cabeças de gado.
Qual a qualidade do café produzido na região?
Em Marília e região é produzido café tão bom quanto em Minas, principalmente os primeiros lugares no concurso. São classificados dez e destes, cinco são premiados. O primeiro lugar aqui concorre com o café mineiro. Desta forma temos uma classificação que analisa defeito, bebida, entre outras. E desta seleção surgem os melhores cafés de Marília. Agora aqui não se consegue fazer totalmente o café bom, só consegue aquele produtor que realmente se esforça. Primeiramente o café tem que ser bem tratado, segundo ele tem que colher de preferência no pano, separando o café da varreção da colheita, terceiro no momento que colhe não pode deixar na roça, deve ser transferido urgente para o terreno já que não pode ficar esquentando. Depois tem que separar o maduro do preto e do verde. Em seguida mexer este café muitas vezes e quando virar passa não deixar mais molhar. Portanto, algumas práticas devem ser seguidas para alcançar o objetivo. Nem todos conseguem, mas dá para melhorar bastante. Por exemplo, Ocauçu tinha fama de ter café muito ruim, hoje a cidade tem um produto considerado bom.
Qual a importância do concurso do melhor café realizado pela Cooperativa?
É exatamente mostrar que Marília tem condições de fazer um café bom. Já que neste concurso no caso dos melhores classificados a saca é comercializada até por R$800. Se o café hoje está a R$ 350, num concurso sai por mais que o dobro. Já que as cafeterias preferem comprar um produto diferenciado para ter café bom e conseguir marketing. No ano passado o vencedor foi de Garça. Tivemos por vários anos produtores da região garantindo as primeiras posições.
Os responsáveis pela avaliação são cinco degustadores de outras cidades que não sabem quem são os proprietários do café.
A economia tem sido favorável para o setor? Sobre as exortações como está a situação?
O café hoje está com este valor baixo, nós esperamos que volte ao bom patamar. O preço da carne também caiu um pouco, mas não podemos reclamar. Porque o forte da cooperativa é café e pecuária. Para o cooperado do setor pecuário temos uma balança que pode ser utilizada gratuitamente. Nós temos um comprador que no ano passado utilizou o equipamento para pesar 13 mil cabeças de gado.
Agricultura não passa por um momento muito ruim não, já tivemos piores.
Na questão da exportação, hoje metade do nosso produto tem este destino. A maior parte vai para Alemanha e Estados Unidos.
Antigamente maior quantidade era enviada para outros países. No passado vendíamos todo o café bom e tomávamos o ruim. O país consumia 13 milhões de sacas, desta forma a Secretaria da Agricultura do estado de São Paulo começou um trabalho de melhorar a qualidade do café E para isso foi necessária a participação dos agricultores e as associações nesta campanha. Daí surgiu o selo de qualidade da Abic, então só podia ter este certificado quem torrava um café puro. Já que antigamente era vendido café misturado com milho e cevada para fazer volume. E depois disso começaram a primar por melhoria. Então nós temos o concurso há 11 anos. Com isso no Brasil começou a ter melhor café para beber saindo de 12 milhões para 19 milhões de sacas. Por isso que 50% do café fica no país.
Como vê a questão do novo código florestal?
Hoje temos mais de 3.200 mudas nativas e 300 mil eucaliptos. Porque dentro da cooperativa temos a Flora Paulista, associação de reflorestamento e preservação da ecologia. Nos últimos dez anos entregamos quatro milhões de mudas de eucalipto e nativa para região. Então o que nós arrecadamos que é obrigado ao pagamento às firmas de madeiras nós doamos, só que obrigamos o plantio. No ano passado nós fizemos 350 mil mudas, mas só arrecadamos 66 mil. Como em Marília temos uma topografia ondulada têm locais que dá pra plantar café e tem lugar que é muito íngreme, se não tiver nada a gente aconselha a reflorestar. O interessante é ter café, reflorestamento, na baixada ter o pasto. Então tudo que você puder ter que preserve o meio ambiente e aumente a produção de alimento é bem vindo.
Há 30 anos o governo pagava e financiava para você abrir uma várzea para encher de arroz ou desmatar um morro para plantar café que tem aqui em Marília, Minas Gerais e Espírito Santo. Então anteriormente ele te pagou, agora vem querendo aplicar uma multa. Uma das coisas que o novo código florestal diz é isso, quem já fez vai continuar do mesmo jeito. Outra coisa que se pretende é diminuir a área voltada para as matas ciliares. Agora a pergunta é porque só no campo você tem que cumprir esta exigência, se diminuísse mais ainda seria ótimo porque iria obrigar inclusive nas cidades a ter a mata ciliar. Um exemplo, se fossem cinco metros, teria que plantar nesta medida no lado do Tietê em toda sua extensão.
Enfim, teve bastante avanço o código florestal, é necessário aprovar rapidamente e colocar em prática. Uma coisa que sempre gera questionamento porque o homem do campo tem que gerar ar puro para a cidade, já que a área urbana que é a maior responsável pela sujeira com o despejo do esgoto nos rios.
Diário de Marília
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