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T Ó P I C O : Dona Jacira, mãe de Emicida e Fióti, apresenta o livro Café em mini documentário

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Dona Jacira, mãe de Emicida e Fióti, apresenta o livro Café em mini documentário


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 11/03/2019 09:47:16


Leonardo Assad Aoun comentou em: 11/03/2019 10:00

 

Dona Jacira, mãe de Emicida e Fióti, apresenta o livro Café em mini documentário

 

Apresentado com exclusividade à Marie Claire, as imagens nos levem ao íntimo de Jacira Roque de Oliveira, 54 anos. A escritora conta que Café é sobre sonhos, desilusões, desejos, identidade, território, justiça e medo

Documentário (Foto: Divulgação/ Demétrio Ferreira dos Santos)
Dona Jacira (Foto: Divulgação/ Demétrio dos Santos Ferreira)

rtista, griot, guardiã das histórias do seu povo, mestre em artes e ofício, poetisa, mulher e mãe, estas são as multiplás Dona Jacira. Nascida em 25 de dezembro de 1964, cresceu no Jardim Ataliba Leonel, na Zona Norte de São Paulo, e vive hoje no Jardim Cachoeira, na mesma região, em uma casa que predonima o cheiro de planta e de café. A bebida dá nome ao seu primeiro livro.

Café (Editora LiteraRUA / Laboratório Fantasma, 440 págs., R$ 44,90) é uma biografia narrada em primeira pessoa que ganha agora um mini documentário. Apresentado com exclusividade à Marie Claire, as imagens nos levem ao íntimo da filha de Maria Aparecida, de quem herdou a garra e o gênio forte, e de Estácio, missionário religioso, morreu meses antes do nascimento da caçula do casal, da mãe de Katia, Katiane, Evandro (Fióti) e Leandro (Emicida), rapper que dedicou a ela, a música Mãe.

A obra apresenta a criança que, pela realidade dura em que vivia, precocemente teve que virar mulher, mas nunca desistiu de sonhar e de escrever, mesmo que apenas em sua cabeça. Em conversa com a Marie Claire, Jacira Roque de Oliveira, aos 54 anos, conta que Café é sobre sonhos, desilusões, desejos, identidade, território, justiça e medo.

“Escrever não foi uma decisão, eu sempre fiz isso, vivia escrevendo em todos os lugares, até que eu comecei a ver que a escrita era ruim para mim, as pessoas pediam para eu parar de escrever, que eu ia ser empregada doméstica. Fui expulsa da escola por causa da minha escrita, por escrever o que eu vejo, aquilo que minha memória guarda e isso foi um choque para mim, dei um breque de quase 40 anos sem escrever, mas sempre minha estava sempre me cobrando, era de dentro, da minha intuição, principalmente quando eu sento o cheiro de café”, conta a autora.

Capricorniana
O aroma de café é o cheiro da cozinha da mãe de Jacira, mulher de quem ela herdou costumes, garra e até teimosia. Quando criança, costuma dizer que era “fora do eixo”. “Nunca segui o que os adultos me falavam, sempre fui diferente, não tinha tempo de brincar como as outras crianças, queria ver as coisas, as plantas, os pequenos bichos, era uma criança muito séria, não acreditava que tinha que brincar de roda, tinha muitas obrigações”, diz Jacira.

Dona Jacira teve que se tornar adulta precocemente. “Sabe que isso é uma característica de capricórnio?!”, afirma. Ela que não “levava a sério” astrologia, passou a estudar os signos e a fazer estudos e, apesar de conhecer pessoas do mesmo signo totalmente diferentes, acredita que suas características são exatamente uma capricorniana: objetiva para conquistar seus ideais e persistente, sabe lutar pelos seus sonhos como ninguém.

“Algumas crianças têm uma característica envelhecida de Saturno, eu fui essa criança. Achava que os adultos eram mais minha companhia do que as pessoas da minha idade”, lembra Jacira. Por estar rodeada de adultos, a autora herdou das mulheres com quem convivia, principalmente da mãe a “ideia de vender”.

“Não só eu, mas toda minha família herdou essa coisa de vender coisas. Minha mãe era feirante e depois teve um comércio, seguimos esse curso. A gente acabou sendo empregada doméstica, mas descobrimos que não dava pra sobreviver com um salário como esse. Decidi voltar para a escola aos 26 anos, estudei enfermagem, meus irmãos foram para a área das vendas e até meus filhos seguiram o exemplo da minha mãe”, diz Jacira sobre Fióti e Emicida, que dentro de casa começaram a Laboratório Fantasma, selo de moda e música responsável por grandes nomes do rap nacional. “O exemplo da minhãe mãe é assim: se o dinheiro que você ganha não dá, tem que fazer bico, fazer o que ter, várias coisas para ter o que comer, uma casa. Trabalhe, não tem outro jeito”, explica.

Documentário (Foto: Divulgação/ Demétrio Ferreira dos Santos)
Dona Jacira (Foto: Divulgação/ Demétrio dos Santos Ferreira)

Comer, cozinhar e bordar
Com uma trajetória marcada por cheiros e gostos de comida, Jacira conta que gosta tanto de comer quanto de cozinhar. “Gosto das duas coisas e sou sistemática, tenho meus planejamentos do que gosto de comer, tenho uma linha de alimentos, agora, como muito inhame, batata doce e frutas, sempre estou no mercado municipal e orgânico, tenho uma alimentação mais natural. Já que hoje moro sozinha essa é minha forma de comer. Gosto de descobrir o que as pessoas que estão comigo gostam, não que eu esteja disposta a fazer café, almoço e janta, mas gosto de fazer pão, saladas e formas de me alimentar melhor”, conta aos risos.

Além da escrita, Jacira faz encontros com seus vizinhos para falar sobre alimentação saudável e o cuidado com plantas e também ocupa seus dias com bordados, aprendizado que herdou da Bisa e da avó.

“O bordado entrou na minha vida por causa da minha bisavó, que nunca comprou roupa de loja, fazia tudo sozinha, ela não usava nem sapato - e olha que as nossas ruas eram de pedras-, eu colocava a linha na agulha dela, ela mal enxergava, ficava fascinada e comecei a bordar junto com ela. A tecelagem me conquistou e quando não pude mais escrever a tecelagem me acompanhou por um tempo e serviu para eu fazer roupas para os meu filhos. Quando voltei a estudar deixei as agulhas de lado e voltei quando perdi a função renal, faço hemodiálise há 20 anos, quando entrei em depressão o bordado voltou como uma terapia, como contadora de história, comecei a estudar diáspora africana. O bordado é para mim como a escrita”, conta Jacira.

Seus trabalhos em bordados puderem ser vistos por todo o mundo na edição de 2017 do SPFW. Seus patchworks eram destaque das peças conceituais desfiladas pela LAB, grife dos seus filhos Emicida e Fióti.

Jacira, sem dúvida, foi inspiração para seus filhos. “Sabia que alguma coisa tinha que acontecer [com eles], mas ainda não sabia como ia orientar meus filhos, a gente precisava conhecer outro status. Tardiamente fui ter acesso a livros e fazer acompanhamento escolar com eles, que já estavam grandes, ficava de olho, filho é igual planta não é coisa que se cria de longe, tive que prestar atenção na própria vivência deles. Não os orientei através da leitura, mas a gente pesquisava junto, quando a criança é pequena ela tem que ser apresentada as coisas e a cultura. Levava sem entender para o que servia, não sabia o que era arte, não sabia se ia servir como algo para ganhar dinheiro, mas a minha intuição eu sabia que tinha algo que eles tinham que aprender e eu também”.

Para Jacira, comer, cozinhar, escrever e bordar tem a ver com autocuidado. “Sempre pensei nisso e a enfermagem me ajudou disso, gosto de conhecer e trazer o conforto para os que estão perto de mim, me senti bem.” Isso fez com que ela também vivesse em meio a um imenso jardim, “é o meu dom maior. Quando era criança ficava olhando todos os dias qual seria a próxima folha nova, quando descobri que na ponto do pé de feijão dava outro feijão, fiquei louca, mas mostrava para os adultos e eles achavam besteira, mas para mim era mágico, era só um quando enterrou na terra... Agora vivo isso novamente, ontem acordei e minha ora-pro-nóbis estava cheia de flor e eu nunca tinha vez, senti a mesma emoção de quando via os pés de feijão crescendo.”

É esta mesma emoção que Jacira sente a cada encontro e evento de lançamento do seu livro. "É uma sensação de reconhecimento. Tinha uma intuição de que isso iria acontecer, mas até então não tinha mais nada claro. Hoje não, agora é uma coisa concreta. Tenho o livro, pessoas que já leram, que comentam e me sinto realizada", conta. Jacira já tem outras obras escritas para um dia, como deseja, serem publicadas. "Tenho 54 anos escritos só da minha biografia, são 15 livros só da minha avaliação como capricorniana", diz aos risos. "São livros escritos como música, falando dos meus amores, mas antes eu precisava falar da minha infância." Dona Jacira é como música de melodia doce e letra forte, mulher que toca e dá aquela sensação quentinha no coração, assim como café.

Documentário (Foto: Divulgação/ Demétrio Ferreira dos Santos)
Dona Jacira (Foto: Divulgação/ Demétrio dos Santos Ferreira)

Fonte: Marie Claire

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