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T Ó P I C O : Coffea stenophylla – O CAFÉ DO FUTURO?

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Comentários do Tópico

Coffea stenophylla – O CAFÉ DO FUTURO?


Autor: Leonardo Assad Aoun

1.795 visitas

3 comentários

Último comentário neste tópico em: 25/05/2021 16:39:30


Leonardo Assad Aoun comentou em: 24/05/2021 18:13

 

Coffea stenophylla – O CAFÉ DO FUTURO?

 

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Vem sendo divulgado, em vários meios de comunicação, que a espécie Coffea stenophylla teria potencial para “garantir o futuro da cafeicultura” frente às mudanças climáticas. Tal informação foi extraída de alguns artigos publicados que indicam que a espécie pode ter tolerância ao calor, além de apresentar “boa qualidade de bebida, semelhante a do café arábica”. Contudo, observa-se que esses artigos abordam muito mais a questão da adaptação da espécie em diferentes locais e a qualidade da bebida, do que propriamente a tolerância a altas temperaturas, uma vez que nenhum estudo específico foi feito neste sentido. Diante disso, gostaríamos de acrescentar algumas informações a fim de estimular o debate sobre o tema.

A espécie Coffea stenophylla é originária da África Ocidental (Costa do Marfim e Serra Leoa) e foi introduzida no Brasil em 1953, passando a fazer parte do Banco de Germoplasma de Cafeeiro do Instituto Agronômico de Campinas (IAC), onde é preservada até hoje. Desde então inúmeros estudos foram realizados com a espécie, tanto do ponto de vista genético quanto da possibilidade de uso agronômico, mas nunca se observou atributos que realmente despertassem a atenção para aproveitamento no melhoramento genético. Sabe-se que a espécie possui alta tolerância ao bicho mineiro e é suscetível à ferrugem alaranjada das folhas, e não há dúvida de que a existência de tolerância ao calor e ou à seca seria muito bem vinda para uso futuro na cafeicultura, mas ainda são necessários estudos específicos sobre a fisiologia e a fenologia da planta;

Trata-se de uma espécie diplóide que, nas condições de Campinas-SP, apresenta baixíssima produtividade, grãos de peneira baixa (menor que 15), grande quantidade de grãos moca e de frutos chochos (cerca de 50% nos acessos do IAC). Portanto, qualquer iniciativa de melhoramento genético deverá contemplar cruzamentos interespecíficos, retrocruzamentos e seleção de genótipos superiores, o que poderá demandar no mínimo 20 anos de melhoramento para se obter algum material de interesse comercial compatível com a realidade da cafeicultura brasileira. Esse seria o prazo para se conseguir a tal “domesticação mínima da espécie” citada em literatura;

Nas avaliações qualitativas citadas nos artigos publicados observa-se que a espécie Coffea stenophylla apresentou nota de 80,25 pontos na escala da Specialty Coffee Association (SCA) e algumas características sensoriais semelhantes ao café arábica. Apesar de se enquadrar como um café especial, trata-se de uma qualidade básica, sem grandes atributos sensoriais (ideal seria acima de 84 pontos). Vale ressaltar também que algumas amostras analisadas continham apenas 70 gramas de frutos maduros, que após secagem e beneficiamento não foi suficiente nem para aplicar o protocolo SCA de avaliação, sendo necessário reduzir a quantidade de xícaras, de 5 para 3 apenas. Considerando que a qualidade da bebida do café é um fenótipo, que, portanto, depende da interação Genótipo x Ambiente, seria recomendável avaliar a qualidade do café em diversos anos e ambientes, para se obter resultados conclusivos a respeito de desempenho qualitativo de espécies e ou variedades de cafeeiro;

Nota-se que há grande preocupação em encontrar cafés com qualidade semelhante a do café arábica. No entanto, com o amadurecimento e expansão dos mercados de cafés especiais, talvez seja uma melhor estratégia investir na valorização da qualidade intrínseca de cada espécie, reconhecendo a importância de cada uma e aproveitando seus melhores atributos naturais para atender às exigências do mercado de cafés diferenciados, com possibilidade de agregação de valor;

Obviamente que é preocupante um cenário de aquecimento global com efeitos negativos diretos na cafeicultura. No entanto, infere-se que poderão ocorrer avanços tecnológicos para mitigação de certos fatores abióticos de maneira proporcional aos problemas causados por provável mudança climática. Existem diversas medidas paliativas que podem contribuir para melhoria dos sistemas de produção de café, amenizando alguns efeitos climáticos indesejáveis. Assim, práticas de manejo de lavoura integradas ao melhoramento genético serão altamente demandadas em algum momento.

Esperamos ter contribuído e ficamos à disposição para debater o assunto. Por favor, façam seus comentários!!!

 

Gerson Silva Giomo – Pesquisador Cientifico do Centro de Café do Instituto Agronômico – IAC – Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo

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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 25/05/2021 12:33

 

Promessas

 

Prezado Gerson

Excelente esclarecimento sobre as tais novidades que sempre estão a despertar curiosidade, mas que demandam muita ponderação antes de qualquer posicionamento. 

Abçs

Celso Vegro

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João Marcos Altieri Ramos comentou em: 25/05/2021 16:28

 

Viva a ciência brasileira. Viva o IAC.

 

Prezado Dr. Gerson,

Excelente artigo. Parabéns por suas colocações. A imprensa está vendendo a “NOVA” espécie como a salvação. É muito bom saber que no Brasil temos pesquisa séria com ela.

Em 2017 tive oportunidade de degustar alguns dos seus cafés na SIC a convite do Sergião. Memoráveis!

Viva a ciência brasileira. Viva o IAC.

Atenciosamente

João Marcos Altieri Ramos

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