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T Ó P I C O : Artigo sobre ferrugem do cafeeiro

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Criado em: 28/06/2006

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Artigo sobre ferrugem do cafeeiro


Autor: Carla de Pádua Martins

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Último comentário neste tópico em: 27/01/2012 07:14:36


Carla de Pádua Martins comentou em: 27/01/2012 07:14

 

Artigo sobre ferrugem do cafeeiro

 

REHAGRO

No Brasil, a ferrugem do cafeeiro foi constatada pela primeira vez em 1970, na Bahia, e hoje se encontra disseminada por todas as regiões, causando severa desfolha das lavouras levando a queda de produtividade que pode chegar até 30%.

 

1. Introdução

A ferrugem do cafeeiro, causada pelo fungo Hemileia vastatrix Berk et. Br. está em destaque na história mundial, pois foi responsável até mesmo por uma mudança de hábito na mais famosa monarquia do mundo. Isso porque quando atingiu as plantações inglesas de café do Ceilão (colônia africana inglesa), por volta de 1869, o governo inglês substituiu as plantações de café por chá, substituindo o hábito da corte para este último, tão famoso até os dias atuais.

No Brasil, a doença foi constatada pela primeira vez em 1970 no estado da Bahia e hoje se encontra disseminada por todas as regiões produtoras, causando severa desfolha das lavouras levando a queda de produtividade que pode chegar até 30%.

2. Descrição da enfermidade

A doença é causada por um fungo policíclico, ou seja, vários ciclos da infecção são repetidos durante o cultivo ou estação de crescimento, sendo considerada a enfermidade mais prejudicial à cafeicultura brasileira, desde que foi descoberta em 1970. Esta doença ataca as folhas, provocando manchas (pústulas) cobertas por uma massa de esporos amarelo-alaranjados na face inferior. O fungo ataca o centro das células causando morte dos tecidos e consequente desfolha intensa quando não controlado.

As condições climáticas ideais para a ferrugem é temperatura na faixa de 20 a 24ºC e alta umidade. Dessa forma, a doença normalmente inicia seu desenvolvimento em novembro/dezembro e tem o pico de infestação em maio/junho. Porém, ressalta-se que, nos últimos anos, tem-se notado uma evolução mais tardia desta ferrugem, em função de invernos mais quentes e úmidos que se tem observado.

Juntamente às condições climáticas, as condições da lavoura também podem interferir no progresso da doença, podendo-se citar:

  • Lavouras adensadas ou plantas com muitas hastes: favorecem o ambiente (micro clima) mais sombrio e úmido;
  • Adubações e tratos culturais mal feitos: dessa maneira a planta terá menos carboidratos e outros componentes que ajudam em sua defesa;
  • Presença de inóculo da doença em lavouras abandonadas o ano todo: estas lavouras disseminam, por meio de ventos e chuvas, os esporos para as lavouras no entorno, antecipando e agravando o ciclo da ferrugem;
  • Alta carga pendente: a planta dirige todos seus carboidratos para os frutos, deixando-a menos protegida contra a doença;
  • Variedades: a maioria das variedades plantadas no Brasil ainda é susceptível (Catuaí e Mundo Novo). Pode-se ainda observar que o Catuaí é mais resistente que o Mundo Novo e este último mais resistente que o Bourbon a ferrugem.

3. Táticas de controle

3.1. Controle genético

O uso de variedades resistentes é o mais interessante, porém, nota-se que esta alternativa não tem sido muito utilizada contra a ferrugem. Este fato pode ser explicado pelas constantes quebras de resistência por novas raças de Hemileia vastatrix e pelo baixo custo de outros métodos de controles mais eficientes.

Porém, esta é uma tática que pode ser muito interessante para algumas situações, como, plantios em áreas montanhosas não mecanizadas, e para produtores de menor poder aquisitivo.
Ainda podemos ressaltar que o uso de variedades resistentes aliado a tratamentos químicos, resulta em grande aumento de produtividade, seja pelo vigor que muitos destes produtos causam na planta, seja pelo controle de outras doenças secundárias, como a cercosporiose.
Dentre as variedades resistentes a ferrugem, podemos citar:

  • C. arábica x C. canephroa = Icatu Vermelho e Icatu Amarelo;
  • Icatu x Catuaí = Catucaís;
  • Vila Sarchi x Híbrido de Timor = Obatã.

3.2. Controle químico

Antes mesmo da chegada do fungo da ferrugem ao Brasil, o controle químico já vinha sendo estudado por pesquisadores. Assim, ao longo dos anos, eles foram se tornando mais baratos e eficientes.

Os fungicidas são classificados, quanto ao modo de ação, da seguinte forma:

  • Erradicantes ou desinfestantes: Enxofre;
  • Protetores ou preventivos: Cúpricos, ditiocarbamatos e estrobirulinas;
  • Curativos ou terapêuticos: Benzimidazóis e Triazóis.

No controle da ferrugem do cafeeiro, os primeiros fungicidas a serem usados foram os cúpricos, como oxicloreto de cobre e hidróxido de cobre. Porém, conforme mencionado, estes fungicidas são protetores, assim como os fungicidas orgânicos, como os ditiocarbamatos. Dessa maneira, logo tiveram que ser substituídos pelos triazóis, que se movem nas plantas via xilema, ou seja, são sistêmicos, e atuam curativamente dentro da folha, reduzindo sua esporulação. 

Posteriormente aos triazóis, apareceram as estrobirulinas, que são fungicidas desenvolvidos a base de Strobilurus sp. (cogumelo), atuam na planta de maneira preventivamente e se translocam na planta de maneira mesostêmica (translaminar), como pode ser observado na Figura 1.


Translocação da estrobilurina na folha
Figura 1 - Translocação da estrobilurina na folha.
Fonte: Vanessa Foresti Pereira.

 

Atualmente, a forma química mais eficiente observada no controle de ferrugem do cafeeiro é o uso de misturas a base de triazóis + estrobilurinas usados concomitantemente aos cúpricos de maneira preventiva. Uma sugestão que tem dados bons resultados na região Sul de Minas é:
 

  • Hidróxido de Cobre – Outubro/Novembro;
  • Hidróxido de Cobre e Triazol + Estrobilurina – Novembro/Dezembro;
  • Hidróxido de Cobre e Triazol + Estrobilurina – Janeiro/Fevereiro;
  • Triazol + Estrobilurina – Março/Abril.

Também existem no mercado produtos de uso via solo (drench) a base de triazóis + inseticidas do grupo dos neonicotinóides. Estes produtos, além de ajudar no controle de ferrugem, também ajudam no controle de bicho-mineiro e cigarras, efetuando um grande poder tônico nas plantas.

3.3. Outras Medidas Gerais de Controle

Além das medidas de controle genético e químico citadas, algumas pedidas podem auxiliar no manejo da doença, como:

  • Adubação equilibrada;
  • Realizar constantes desbrotas das lavouras para evitar o auto-sombreamento;
  • Podas periódicas;
  • Espaçamentos mais largos nas entrelinhas.
  • Evitar cultivo sombreado.

4. Monitoramento

No controle químico, existe metodologia para realizar o monitoramente e entrar com o controle químico quando a lavoura atingir o nível de controle. O método de controle proposto por Guimarães et. al (2010), é:
 

 

  • Dividir as lavouras em talhões uniformes;
  • Caminhar nas linhas, aleatoriamente coletar cinco a dez folhas por planta (no terceiro ou quarto par), no terço médio da planta, perfazendo um total de 100 a 300 folhas por talhão ou gleba uniforme, conforme se pode observar pelas Figuras 2 e 3.
Monitoramento de ferrugem
Figura 2 - 
Linha em vermelho mostra o caminhamento em um monitoramento de ferrugem.
Fonte: Luiz Paulo Vilela.
 
Coletagem de folha para a monitoração da ferrugem.
Figura 3 - Altura de coleta de folhas e par de folhas ideal para se coletar no monitoramento de ferrugem.
Fonte: Rubens José Guimarães.

 

  • Contar o número de folhas com ferrugem e determinar a porcentagem de infecção conforme a fórmula a seguir:
Fórmula para obtenção do índice de infecção.

 

 

 

O monitoramente deve ser feito mensalmente, a partir de dezembro, e a partir dos dados levantados mensalmente traça-se a curva de progresso da ferrugem, como se pode observar na Figura 4.
 

Curva de incidência de ferrugem
Figura 4 - Curva de incidência de ferrugem em três lavouras.
Fonte: Salgado et. al (2007).

 

O controle preventivo deve se iniciar com o índice próximo de 0% com folhas com ferrugem e para o uso de fungicidas sistêmicos deve ser feito com índices inferiores a 5%, pois assim, há uma quebra logo no inicio do ciclo da ferrugem.

Um grande erro que se tem notado no manejo da ferrugem é que o produtor fica muito preso a datas para realizar as pulverizações com fungicidas. O clima está muito diferente de um ano para o outro, e com isto, o comportamento da doença tem mudado também de um ano para o outro. Assim, o monitoramento é uma ferramenta importante para saber qual o momento ideal para entrar com o controle. Para os produtores que não conseguem realizar o monitoramento, a melhor alternativa é entrar sempre com o controle preventivo.

 

Referências Bibliográficas

COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da Safra Brasileira Café Safra 2012. Primeira Estimativa. Brasília, 2012.
GUIMARÃES, R.J.; MENDES, A.N.G.; BALIZA, D.P. Semiologia do Cafeeiro: Sintomas de desordens nutricionais, fitossanitárias e fisiológicas. Lavras: UFLA, 2010. 215 p.
MARIELLO, J.B.; SANTINATO, R.; GARCIA, A.W.R.; ALMEIRA, S.R.; FERNANDES, D.R. Cultura de Café no Brasil: Novo Manual de Recomendações. Rio de Janeiro: MAPA/PROCAFE, 2005.438 p.
SALGADO, B.G.; MACEDO, R.L.G.; CARVALHO, V.L. de; SALGADO, M.; VENTURIN, N. Progresso da Ferrugem e da Cercosporiose do Cafeeiro Consorciado com Grevílea, com Ingazeiro e a Pleno Sol em Lavras-MG. Ciênc. Agrotec., Lavras, v. 31, n. 4, p. 1067-1074, jul/ago., 2007.

Publicado em 23/01/2012 por Luiz Paulo Vilela Oliveira, engenheiro agrônomo – Equipe ReHAgro

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