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T Ó P I C O : #HOMENAGEM - - - Paula Motta: uma presença eterna no CAFÉ

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#HOMENAGEM - - - Paula Motta: uma presença eterna no CAFÉ


Autor: Sergio Parreiras Pereira

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2 comentários

Último comentário neste tópico em: 02/09/2013 06:48:49


Sergio Parreiras Pereira comentou em: 31/08/2013 20:13

 

#HOMENAGEM - - - Paula Motta: uma presença eterna no CAFÉ

 

Escrever sobre Paula Motta é fácil e difícil ao mesmo tempo. Fácil porque era homem de muitas histórias e muitos amigos, amado e querido por todos, e todos querem falar sobre ele. Difícil é, com tantas histórias, saber por onde começar. Neste caso, apelemos para a tradição, ou anti-tradição, de Machado de Assis, em suas Memórias Póstumas, e comecemos pelo fim. José de Paula Motta Filho faleceu no dia 7 de dezembro de 2008, no Rio de Janeiro, deixando a viúva Maria Elisa, os filhos Patrícia, Luciana e Rodrigo, além do neto Victor. O corpo velado no cemitério do Caju portava 72 anos de histórias ligadas à cafeicultura brasileira e também um histórico menos nobre, e com muito menos tempo, de problemas relacionados à diabete.

Segundo amigos, todavia, o seu legado não o acompanhou nessa última viagem. “Eu não digo que Paula Motta era um homem honrado, eu digo que ele ainda é um homem honrado, porque, apesar de ter falecido, a sua obra, o seu espírito, o seu exemplo, continuam vivos”, resume Almir Filho, presidente da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic). São também de Almir as seguintes palavras sobre Motta: “Conheci ele no governo, depois na iniciativa privada e, novamente, no governo. Minha definição do Paula Motta é a seguinte: um homem que dedicou sua vida em benefício do desenvolvimento do agronegócio café. Um homem de vanguarda, extremamente prudente e conciliador.”

Nascido em Ponte Nova, zona da mata mineira, Motta estudou em Piracicaba, interior de São Paulo, onde lhe ofereceram uma bolsa de estudos, em troca de participação no time de basquete. “Acho que jogava direitinho, porque fiquei sete anos na seleção brasileira”, observou o modesto Motta, em entrevista à Revista do Café, edição de junho de 2001, feita por este mesmo repórter. Formou-se, então, em agronomia, na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, a prestigiada Esalq. A partir daí, o jovem Motta seria disputado pelas mais altas esferas da política agrícola nacional, a começar pela Secretaria de Agricultura de São Paulo e depois pelo Instituto Brasileiro de Café, o poderoso IBC, onde galgaria os postos mais importantes. Carlos Andrade Pinto, um dos primeiros presidentes do IBC, que era sediado no Rio, dá seu depoimento sobre o início da carreira de Motta:

“E chega à Cidade Maravilhosa o Zé de Paula Motta, para trabalhar no Gerca. Eu acabava de regressar ao Brasil, depois de concluído um curso de pós-graduação em economia agrícola na CEPAL, no Chile. Passamos a dividir a mesma sala. Do primeiro aperto de mão até o ultimo adeus sem resposta, silencioso e triste, no Memorial do Caju, foram mais de quarenta anos de uma amizade daquelas que o mineiro Milton Nascimento manda guardar no fundo do coração. Tive o privilégio de nomeá-lo Diretor do Instituto Brasileiro do Café e nas inúmeras ausências, por motivos de reuniões internacionais, ele respondia pela Presidência. Responsável pela Diretoria de assuntos agrícolas, representava os cafeicultores inconformados com a política de preços imposta pela área econômica do Governo. O único instrumento à disposição do Governo para regular as oscilações nos preços era o manuseio da ‘quota de contribuição’ - na verdade um imposto de exportação ou na visão dos agricultores um ‘confisco cambial’. Quando, por efeito de geada, seca prolongada, queda de produção em outros países ou por simples variações na oferta devidas ao ciclo bianual do cafeeiro, o mercado internacional reagia subindo a Bolsa de Nova Iorque, o IBC imediatamente aumentava o confisco. Eram decisões que afetavam duramente as expectativas de lucro do setor agrícola. O Paula Motta, como membro da Diretoria do IBC, teria todos os motivos para se rebelar contra uma decisão que, aparentemente, traía os interesses de seu grupo de origem. Autêntico líder de sua classe, galgado ao mais alto posto na hierarquia que ditava os preços que os companheiros produtores iriam receber, Motta, todavia, nunca cedeu ao corporativismo. Ao contrário, ele percebia que a única maneira de viabilizar a cafeicultura nacional seria implementando uma vigorosa política de erradicação de cafezais deficitários e abrindo novas fronteiras agrícolas na Bahia e no Cerrado onde vicejariam árvores com maior produtividade e sem as dramáticas conseqüências das geadas. As alterações eram decididas nas sextas-feiras, quando já fechara a negociação Contrato C em Nova Iorque. No dia seguinte, já estava indo o Paula Motta para o interior, explicar a seus pares a importância da medida. Eram suas armas a calma, a paciência mineira e a voz pausada, para convencer e afastar a resistência dos mais violentos críticos do governo. Nunca se ouviu dele uma contestação de índole classista. Estava certo de que os recursos voltariam, como voltaram, para o setor cafeeiro, em obras de infra-estrutura e através da política de sustentação de preços internos. Os cafeicultores brasileiros acabaram, então, por reconhecer a atuação do Paula Motta na Diretoria do IBC como visionária e a ele devem a pujança atual do nosso parque produtivo. Foi-se o Zé de Paula Motta, digno em toda sua vida, e heróico no incompreensível e abominável sofrimento que suportou nos últimos dias. Honrado como homem público, por certo estará discutindo os efeitos do confisco cambial com o outro santo inspirador do confisco, o São Otávio Gouvêa de Bulhões, então ministro da Fazenda.”

E já que iniciamos a transcrição dos depoimentos dos amigos de Motta, passemos para outro, o de Linneu Costa Lima, que conviveu intimamente com Motta durante o último emprego deste, como assessor especial do Ministro da Agricultura. Lima era secretário de Produção e Agroenergia do Ministério e costumava almoçar com Motta quase todos os dias.

“Paula Motta é uma lenda. Desde o tempo do meu pai, quando ele dirigia a cafeicultura no Brasil. Eu falava pra ele que eu, quando jovem, fiz um projeto de adensamento de café e mandei pro IBC e, depois de um mês, chegou uma carta do IBC, com o carimbo INDEFERIDO. Cheguei no Ministério e pensei, agora é minha vingança, hehe. Paula Motta, em Piracicaba, tinha o apelido de ‘Famoso’, porque era um atleta admirado por todos, campeão de basquete. Ele trabalhou no IBC na época em que o IBC emitia avisos de garantia, que era a mesma coisa que emitir dólares. Numa época em que não tinha tribunal de contas. E morreu da maneira como viveu, um homem simples, sem grandes propriedades ou dinheiro, o que mostra como era íntegro e honesto. Eu devo muito ao Paula Motta. Eu me lembrava, quando fui para o Ministério, que o Pedro Camargo (o secretário de Produção anterior à Linneu) dizia que os segmentos brigavam muito entre si. Então eu cheguei lá e pensei: a cafeicultura é um todo, ou nós nos unimos e fazemos uma lista de prioridades, e todos estão de acordo, ou não temos nada a fazer aqui. O Paula Motta me ajudou muito nisso, porque tinha crédito com todos os segmentos. Produção, indústria, Mauro Malta (solúvel), Guilherme Braga (exportadores), todos gostavam do Paula Motta. Amigo e técnico do setor, sempre tinha um conselho prudente. Sempre conscencioso, com delicadeza. Café é um negócio muito delicado, sensível, e qualquer declaração afeta o mercado internacional. As medidas que discutíamos eram, portanto, tomadas e divulgadas apenas depois de todos os segmentos terem conhecimento. Motta também tinha um relacionamento na OIC muito grande e foi essencial para a organização da segunda Conferência Mundial de Café, que recebeu representantes de todo mundo. Motta é um credor muito grande, meu e da cafeicultura. A gente almoçava junto quase todos os dias. Era um companheiro de todas as horas. Era sempre ele o mensageiro, quando queríamos advertir um ou outro representante do setor sobre algum excesso verbal ou flexibiliar uma ou outra posição mais radical de algum segmento. Quisera cada uma das atividades econômicas do Brasil tivesse um Paula Motta. A cafeicultura conseguiu fazer uma política onde cada setor tinha presença e legitimidade. Ele era uma figura muito querida e respeitada por todos. Todos gostavam do Paula Motta, em todos os estados. Eu estava sempre brincando com ele, lembrando aquela história do meu projeto recusado. Ele tinha conexões também com diversos setores do governo. Era um homem perfeitamente integrado no serviço público. E nunca era parcial. Ouvia muito, não discutia com ninguém. Era um homem muito bom e prestou um serviço muito importante para a cafeicultura.”

Outro que conviveu de forma muito próxima com Motta foi o ex-diretor do Departamento de Café do Ministério, Vilmondes Olegário, que também aceitou dar um depoimento sobre o amigo.

“O que eu lembro de Motta? Do humor dele, era extremamente bem humorado. Nas situações mais difíceis, sempre mantinha a calma. Eu era diretor do Departamento de Café e o Paula Motta era assessor do secretário de Produção e Agroenergia, a gente trabalhou juntos por 4 anos. Era um caráter ilibado, sempre com otimismo, e tinha uma capacidade de agregação muito grande, de acomodar as posições, no bom sentido. Ele atuava sempre para unir os diversos segmentos. O CDPC (Conselho Deliberativo de Política do Café) funcionou com bastante harmonia na época do Motta, mesmo os interesses sendo contraditórios. Ele tinha grande capacidade de aglutinar pessoas, idéias, entidades.”

Contatamos também o exportador Jair Coser, presidente da Unicafé. Coser conta que conheceu Paula Motta no tempo em que era presidente do Centro de Comércio de Café de Vitória (CCCV) e militava em prol da cafeicultura capixaba. “Antes de me tornar grande amigo dele, tivemos atritos, porque Motta havia sido um dos patrocinadores da erradicação das lavouras de arábica do Espírito Santo, com verba do IBC, e depois se posicionou duramente contra o plantio de conillon no norte do estado. Finalmente, convenceu-se de que se tratava de um grave problema social e deu aval para o IBC liberar crédito para o ES. Depois disso, contudo, nos aproximamos e ficamos muito amigos. Motta foi, certamente, um dos homens que mais entendia de café no Brasil”.

José Braz Matiello, também egresso do IBC, hoje diretor do Procafé, instituição de pesquisa ligada ao Ministério da Agricultura, conversou com a Revista e deu o seguinte depoimento sobre Paula Motta:

“A filosofia dele era sempre contornar, conversar, dar um jeito de não desagradar ninguém. Tinha até uma máxima, que era ‘trate bem os inimigos, porque os amigos, bem, os amigos já são amigos mesmo’. Dificilmente falava contra alguma coisa, só se não gostasse mesmo. Tinha muita habilidade política, tanto que se manteve em vários governos, sempre usando sua capacidade de diplomacia. De fato, era mais embaixador que agrônomo. Desde o início, sua participação no IBC se notabilizou mais no lado administrativo e na política. Foi meu padrinho de casamento. O hobby dele era criar passarinho: canário, currió, bicudo, galo-de-briga. Nas horas de vaga dedicava-se a isso. Currió e bicudo, para quem não sabe, são os pássaros mais difíceis de criar. Seu parceiro nisso era o Francisco Imperial. “

Entrevistamos também Manoel Vicente Bertone, veterano nas lides da política cafeeira, e hoje Secretário de Produção e Agroenergia do Ministério da Agricultura. Bertone nos contou que conheceu Motta há 20 anos, e desde então conviveu com ele, “em todas as fases que tivemos na cafeicultura”.

“Paula Motta era um grande amigo meu. A gente sempre se encontrava nos eventos de café. Tenho ótimas lembranças dele. Um cara muito equilibrado, pessoa corretíssima. A cafeicultura de hoje deve muito a ele. Ele fez muito pela cafeicultura. Ele dizia que o ‘café exigia engenho e arte’, e passou por todas as fases, da administração forte do Estado para um mercado livre. Era muito habilidoso no conduzir, sabia compatibilizar as opiniões divergentes. Pessoa muito gentil com todo mundo. A verdade é essa. Muitas vezes, ele dizia: em café ninguém sabe tudo, é preciso usar as sandálias de São Francisco.”

Por fim fomos conversar com o ex-presidente da ABIC, Américo Sato. Motta, após o fim do IBC, trabalhou por muitos anos para a Abic e foi Sato quem primeiramente lhe convidou a ingressar na entidade.

“Quando eu fui presidente da Abic, o Paula Motta era superintendente. Eu pedi a ajuda dele em virtude de seu relacionamento e trânsito com toda a cadeia café. Ele prestou um serviço inestimável para a Abic, dentro da minha idéia, na época, de que a cadeia deveria trabalhar unida. Com o fim do IBC, que mal ou bem atendia às demandas de todos, os segmentos começaram a agir sem uma inter-coordenação, de forma independente, cada um por si. Eu iniciei um esforço, e o Paula Motta foi de grande valia nesse sentido, para agrupar os segmentos, com vistas a uma articulação política de objetivos comuns. Hoje, a Abic realiza um evento, o Encafé, que reúne todos os segmentos, produtores, exportadores, corretores.”
Guilherme Braga Pires, Diretor Geral do CECAFÉ, foi conclusivo: “As qualidades e virtudes de Paula Motta são indiscutivelmente todas aquelas já manifestadas anteriormente. Destaco uma outra, muito singular. Paula Motta, na expressão cunhada por Nilo Dante, era um agrônomo multitalentoso. No Governo, na autarquia cafeeira, o IBC, destacou-se como Diretor de Produção, exerceu interinamente a presidência, em várias oportunidades, e, inclusive, ocupou o cargo de Diretor de Exportação. Na iniciativa privada, fundou a exportadora Sendas Trading, a qual dirigiu por três anos. Após, voltou-se para a indústria de torrefação e moagem onde foi Superintendente da ABICS. E, finalmente, voltou ao governo ocupando o cargo de Assessor Especial do Ministro da Agricultura, nas gestões de Pratini de Moraes, Roberto Rodrigues e Guedes Pinto, sendo provavelmente o único exemplo de tanta versatilidade”.

A pressa editorial não nos permitiu agregar outros depoimentos, igualmente importantes, mas por esses já é possível ter uma idéia das qualidades essenciais de Paula Motta: prudência, espírito de conciliação, serenidade, diplomacia, e, claro, uma absoluta integridade moral, que lhe valeu respeito e amizade duradouras de todo o agronegócio café. As homenagens à Motta ainda são incipientes, mas começam a pipocar por toda a parte. Na última semana, os empresários Manoel Correa do Lago e Luiz Otavio Araripe, inauguraram, dentro do programa de inclusão digital do CECAFÉ, Criança do Café na Escola, um laboratório de informática em escola municipal de Bom Jardim/RJ, que recebeu o nome de Paula Motta. A Fazenda Experimental de Varginha, que será a sede do Centro Tecnológico do Café, ora em fase final de criação, um dos mais importantes do país em matéria de experimentação do café, terá o nome de Paula Motta. No anúncio desta homenagem, durante reunião do CDPC, o secretário-executivo do Ministério da Agricultura, Silas Brasileiro, destacou o merecimento de Paula Motta, e afirmou que “a cafeicultura perde um grande companheiro, verdadeiro ícone do segmento, por sua luta, notoriedade e extrema competência”.

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Sergio Parreiras Pereira comentou em: 31/08/2013 20:15

 

Motta

 

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