T Ó P I C O : Adubação foliar no cafeeiro
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Adubação foliar no cafeeiro
Autor: Sérgio Parreiras Pereira
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Último comentário neste tópico em: 07/01/2011 06:42:59
Sérgio Parreiras Pereira comentou em: 07/01/2011 06:42
Adubação foliar no cafeeiro
Adubação foliar no cafeeiro
A adubação foliar é uma técnica agrícola que consiste no fornecimento de nutrientes para as plantas através da pulverização de soluções de adubos nas folhas. A adubação foliar do cafeeiro tem sido objeto de estudos no Brasil e no mundo. Entretanto, ainda são cometidos erros no manejo dos nutrientes aplicados via foliar. Este artigo pretende contribuir na divulgação correta dessa técnica. A superfície das folhas apresenta resistência à penetração de substâncias através das paredes das células. Dessa forma, a absorção foliar depende das propriedades físicas e químicas da camada cuticular das folhas, das características do íon mineral que está sendo aplicado, além das condições de umidade relativa do ar. Na prática, a eficiência da adubação foliar está relacionada a alguns fatores como segue: - Diferença na penetração de cátions e ânions nas folhas: A absorção foliar de ânions e cátions é diferente. Por exemplo: a taxa de absorção foliar do nitrogênio na forma amoniacal (NH4+) é maior do que na forma nítrica (NO3-) e mais rápida para as moléculas como a da uréia (H2N-CO-NH2); - Concentração dos fertilizantes. Pulverizações das folhas em concentrações acima daquelas recomendadas reduzem drasticamente as taxas de absorção; - Diferença na penetração foliar do contra-íon (elemento acompanhante). A taxa de absorção do magnésio pelas folhas varia conforme o fertilizante aplicado. O cloreto de magnésio (MgCl) é absorvido mais rapidamente que o nitrato de magnésio [Mg(NO3) 2] e mais ainda do que o sulfato de magnésio (MgSO4); - Umidade relativa do ar. A taxa de absorção de solutos é mais efetiva sob alta umidade relativa, dai a razão de se indicar a realização da adubação foliar à noite; - Tempo de contato. A absorção foliar de nutrientes é maior quando a solução nutritiva permanece mais tempo na superfície da folha, formando uma película fina. Nesse caso, a adição de surfactantes (produto comercial que facilita o contato com a superfície da folha) à solução nutritiva, reduz a tensão superficial, aumenta o tempo de contato e melhora a eficiência de absorção dos nutrientes. Tipo de adubação foliar Em função de seus objetivos, a adubação foliar pode ser de dois tipos: 1- Adubação foliar preventiva ou complementar: Visa complementar a adubação realizada pelo sistema radicular, seja pela adubação convencional de solo ou água (fertirrigação). Em geral, a adubação complementar é empregada quando a cultura apresenta exigência elevada de um nutriente específico. É comum este tipo de adubação na lavoura de café, em que os macronutrientes são aplicados via solo e os micronutrientes são aplicados nas folhas. 2- Adubação foliar de correção: Visa corrigir uma ou mais deficiências nutricionais em determinado estágio de desenvolvimento da planta. A adubação foliar corretiva deve ser efetuada num determinado momento e seu efeito é de curta duração, pois se as causas da deficiência não forem equacionadas, a deficiência nutricional poderá se apresentar novamente. Aspectos práticos da adubação foliar Embora o mecanismo de absorção das folhas seja muito semelhante ao radicular, os diferentes meios e concentrações em que folhas e raízes se encontram, tornam a adubação foliar diferente da adubação aplicada via solo. Por isso, muitas formulações utilizadas em adubações de solos não são adaptadas à adubação foliar. No fornecimento de micronutrientes via foliar, a resposta ao nutriente aplicado é imediata, porque as doses aplicadas são significativamente menores que as fornecidas na adubação de solo. Ademais, a distribuição na planta é uniforme e as deficiências podem ser amenizadas ou corrigidas no mesmo ciclo da cultura. Entretanto, o efeito residual é pequeno, exigindo reaplicações frequentes, o que poderá representar custos extras. A velocidade de absorção dos elementos varia com a planta e com o elemento, mas, em geral, estima-se que 50% da quantidade aplicada de nitrogênio como uréia é absorvida entre 1 e 36 horas. O fósforo entre 6 e 15 dias. O cálcio em torno de 4 dias. Para o magnésio, 20% da dose aplicada são absorvidas em 1 hora. O enxofre em 8 dias. Para o ferro de 1 a 2 dias. O manganês em 1 a 2 dias. O zinco em 2 a 24 horas. Para o cloro, cerca de 8% é absorvido em 24 horas. A adubação foliar deve ser realizada nos períodos de maior exigência dos nutrientes. No cafeeiro, principalmente na fase de pré, pós-floração e desenvolvimento de grãos. - As pulverizações deverão ser realizadas no período noturno; - Usar produtos surfactantes (adesivos) que promovem maior aderência da solução às folhas; - Quando combinados com pesticidas, usar micronutrientes na forma quelatizada; - Sempre observar os níveis de compatibilidade entre os produtos, ajustando o pH da solução entre 5,5 e 6,5. Existe no mercado uma vasta linha de formulações químicas de nutrientes para uso em adubação foliar. Há produtos com grande poder quelatizante, que protegem os nutrientes contra as reações químicas indesejáveis até que a absorção seja efetivada. De acordo com as pesquisas, os fertilizantes foliares quelatizados apresentam maior eficiência na absorção foliar, como potássio (K+), cálcio (Ca++), magnésio (Mg++), zinco (Zn++), manganês (Mn++), cobre (Cu++), ferro (Fe++) e cobalto (Co++). Contraponto sobre a adubação foliar Ao longo deste artigo, procurou-se abordar sobre o uso racional da adubação foliar. No entanto, por interesses diversos, essa técnica passou a ser recomendada com certo exagero para a maioria das culturas e, em especial para o cafeeiro. Assim, é comum os produtores fazerem uso indiscriminado das pulverizações com adubos foliares sem realizarem análises de solos e folhas para diagnosticar a fertilidade do solo e o estado nutricional das plantas. A nutrição adequada das plantas pressupõe na compreensão dos fatores envolvidos no processo e na competência técnica da aplicação dos insumos, reduzindo os custos de produção e sem agredir ao meio ambiente. De acordo com publicação recente de autoria de Mauro Scigliani Martini, a aplicação de Macronutrientes (N, P e K) por via foliar no cafeeiro tem sido exacerbada, principalmente por má interpretação. Um caso típico é quando a aplicação dos macronutrientes é feita em elevado volume de calda e o escorrimento da solução cai ao solo sendo absorvido pelas raízes, dando a falsa impressão que a pulverização é eficiente para a nutrição dos macronutrientes. O segundo caso é que mesmo que a absorção foliar de macronutrientes fosse total, ou seja, que todo o nutriente aplicado fosse absorvido, ainda assim a quantidade seria muito pequena em relação às exigências do cafeeiro. O exemplo de aplicação de uréia como fonte de N ilustra esse fato: Em pulverização de cafeeiro bem enfolhado, gastam-se em torno de 200 mL/planta de uréia a 2%. Seguindo este padrão, são aplicados 4g de uréia por planta, como ela contém aproximadamente 45% de N, são depositados nas folhas 1,8 g de N/planta. Em um cafeeiro em produção e vigoroso, pode-se considerar em média, 4000g de matéria seca foliar e admitindo uma eficiência de 60% na aplicação e absorção têm-se o seguinte cálculo: 1,8g N x 0,6 (eficiência de aplicação e absorção)/4000g (matéria seca foliar), resulta em aproximadamente 0,03% de Nitrogênio foliar, ou seja, muito inferior ao teor adequado deste nutriente na folha, que está próximo de 3,0% de N. Conclusão A adubação foliar busca suprir as plantas com o nutriente necessário e no momento adequado. Assim, para que a adubação foliar seja técnica e economicamente viável, é fundamental que seja utilizada para o objetivo específico e com conhecimento de causa, no que diz respeito ao nutriente, condições climáticas, diagnóstico da planta, nível tecnológico do produtor, valor econômico do produto agrícola, dentre outros. Para o cafeeiro, a exigência nutricional das plantas não deve ser suprida exclusivamente por via foliar. Portanto, ela não substitui o fornecimento de nutrientes via adubação convencional de solo. Artigo publicado na 29ª edição (Dez/Jan 2011) da revista ProCampo |
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