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T Ó P I C O : CAFÉ: Por que existe o grão moca? - por Paulo Mazzafera

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CAFÉ: Por que existe o grão moca? - por Paulo Mazzafera


Autor: Leonardo Assad Aoun

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1 comentários

Último comentário neste tópico em: 15/01/2024 19:50:42


Leonardo Assad Aoun comentou em: 15/01/2024 18:22

 

Por que existe o grão moca? - Prof. Paulo Mazzafera - Unicamp

 

O fruto a que me refiro aqui não é aquele da variedade Mokka. Os grãos da variedade Mokka têm origem genética e os frutos são ovalados e menores, praticamente iguais ao grão defeituoso chamado moca. Sim, o moca que encontramos nas variedades comerciais deve ser considerado um defeito, porque não só pesa menos e tem peneira menor, como podem dar problemas na torração, já que sendo menor, torra mais rápido e pode conferir gosto não desejado à bebida.

Para melhor compreensão do que comentarei, na figura abaixo indico algumas partes das flores de café. A parte feminina – estigma - ocupa o centro da flor. Ela sai do ovário e vai até o topo da flor, ficando no mesmo nível dos estames, que são a parte masculina. Nos estames é que se formam os grãos de pólen, e eles se fixam nas pétalas. Cada pétala (são 5 na flor do café) carrega um estame. Na flor fechada, as pétalas se dobram e os estames ficam sobre o estigma. Como a produção e liberação de pólen acontece um dia antes da abertura floral, ocorre a polinização com a flor fechada, o que é conhecido como autofecundação. O ovário na flor lembra um chumbinho, mas com tamanho bem reduzido. Trago ainda duas figuras de tomate para ilustrar a germinação dos grãos de pólen. Uma figura mostra em amarelo os grãos de pólen germinados e os tubos polínicos sobre o estigma da flor de tomate. Na outra figura são mostrados grãos de pólen germinando em meio líquido. E finalmente, a figura arredondada é o grão de pólen do café.

Sem título

Na florada, o pólen produzido nas anteras cai sobre o estilo, a parte feminina, e germina, formando o tubo polínico. Este se alonga e chega até o ovário, onde fecundará o óvulo. O café tem dois óvulos, que ficam separados no ovário (duas lojas). Depois de fecundados, cada óvulo gerará uma semente. Caso um dos óvulos fecundados não se desenvolva, o outro cresce, empurrando e ocupando o espaço daquele que não se fecundou. Essa é a origem do grão moca.

A falta de fecundação tem como vilões alta temperatura e estresse hídrico severo. O que estamos vendo agora em algumas regiões, uma alta incidência de moca, é resultado de algo que aconteceu alguns meses atrás, quando tivemos alta temperatura e/ou estresse hídrico severo na florada. Em algumas regiões a chuva apareceu, mas pouco, não sendo suficiente para satisfazer as reservas do solo. Junto, a alta temperatura se manteve. A produção do pólen nas anteras e a sua viabilidade são bastante afetadas por estes dois fatores ambientais. Um pólen pouco viável tem menos reservas e, portanto, energia para crescer, impedindo que o tubo polínico atinja o ovário. Ainda nessas condições de estresse, as flores podem produzir menos grãos de pólen assim como pode não ocorrer abertura plena da antera. Em condições normais de temperatura e oferta de água, a antera produz os grãos de pólen e se abre, deixando-os expostos para fecundar a parte feminina. Se a produção de pólen e a abertura do estame são parciais, a chance de fecundação diminui. Uma última consideração é o estresse hídrico e/ou alta temperatura afetar diretamente o ovário, levando ao aborto. Isso normalmente acontece pela falta de reservas no ovário, principalmente amido, ocasionando a falta de energia para seu crescimento. Também é importante dizer que mesmo não polinizado, eventualmente o ovário começa a crescer, mas abortará posteriormente. É quando abrimos o fruto, e um dos lados está enegrecido e o outro ficando com o formato ovalado.

Como combater isso? Como o grão de pólen é produzido exclusivamente na florada, e sua produção começa um dia antes da abertura da flor, é muito difícil controlar o efeito da temperatura. Certamente que o oferecimento de água por irrigação pode diminuir o problema que se mostrará no futuro.

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