T Ó P I C O : CAFÉ: Sua lavoura está preparada para o estresse térmico? - por Prof. Donizeti
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CAFÉ: Sua lavoura está preparada para o estresse térmico? - por Prof. Donizeti
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 17/06/2024 13:07:27
Leonardo Assad Aoun comentou em: 15/06/2024 18:45
CAFÉ: Sua lavoura está preparada para o estresse térmico? - por Prof. Donizeti
Sua lavoura está preparada para o estresse térmico?
Prof. José Donizeti Alves
O termo “estresse térmico” se refere a um período em que as plantas são expostas a altas temperaturas por tempo suficiente para alterar, por um longo período, sua capacidade de funcionamento, crescimento normal e produção. Embora otimista, não posso ignorar a tendência preocupante das temperaturas cada vez mais altas e ao que parece, vão perdurar por muitos anos e continuar a castigar as lavouras cafeeiras, notadamente aquelas cultivadas a céu aberto, mais espaçadas, de baixas altitudes, implantadas em solos mais arenosos e com baixo teor de matéria orgânica e lavouras velhas.
O cafeeiro é sensível ao calor e precisa de temperaturas amenas para produzir. No entanto, as regiões produtoras de café estão entre as mais vulneráveis às ondas de calor. Prova disso é que, infelizmente nos últimos quatro anos temos lutado, a despeito de todos os avanços tecnológicos e do manejo, superar a safra de 2020 e não estamos conseguindo.
Não vou me ater às causas fisiológicas do baixo desempenho cafeeiro quando exposto a ondas de calor, pois já abordei esse tema em diversos textos. No entanto, recentemente, meu amigo e consultor Eduardo Mosca da C3 Consultoria, ao ler um artigo em que eu discutia as razões para o baixo rendimento da peneira do café fez uma pergunta muito pertinente. “Caso as temperaturas deste ano continuem fora da curva, o que poderíamos fazer, em termos agronômicos, para amenizar esse problema?”
Se o problema é alta temperatura, desde que tenhamos água no solo, teoricamente, basta reduzir a temperatura da planta para resolver a questão. Do ponto de vista fisiológico, para mitigar os impactos de longo prazo do estresse térmico em plantas, há um único caminho a ser seguido: promover a circulação de água no sentido solo-cafeeiro-atmosfera. Em outras palavras, precisamos ativar a transpiração para que ela resfrie a planta e reduza a temperatura das folhas. A forma mais eficiente de fazer isso é mediante irrigação, pois ao manter o solo úmido, repomos a água perdida pelas folhas. Caso não tenhamos sistema de irrigação, a principal estratégia é estimular o crescimento radicular até que ele alcance 1,5 a 2 metros de profundidade, onde as raízes encontrarão água em quantidade suficiente para manter a transpiração e atenuar as altas temperaturas. Não há outra solução. Tenho notado que lavouras sem problema de peneira, se encaixam nesse pré-requisito.
Nesse sentido, práticas que preservem a umidade do solo, estimulem o crescimento radicular e melhorem a absorção de água e nutrientes, ativem a transpiração e reduzam a temperatura das folhas devem ser implementadas. Destaco:
(i) Arborização: colabora na manutenção de um microclima mais adequado às necessidades do cafeeiro, com melhor controle de temperatura e manutenção da umidade do ar e do solo.
(ii) Vegetação de cobertura e cobertura morta nas entre linhas: contribui para a conservação da água no solo e protege as raízes dos efeitos prejudiciais do calor.
(iii) Face de exposição voltadas para o Leste: colabora para amenizar as altas temperaturas no período da tarde.
(iv) Espaçamentos mais adensados: reduz as temperaturas em função do auto sombreamento das plantas.
(v) Bioestimulantes: melhoram o balanço hormonal e ativam as defesas antioxidantes aumentando a tolerância do cafeeiro ao calor.
(vi) Protetor solar. Combate o superaquecimento das folhas reduzindo a absorção dos raios solares e aumentando sua reflexão.
(vii) Copa do cafeeiro com folhas mais horizontalizadas: evita que o excesso de radiação solar penetre nas camadas mais profundas do dossel das plantas, superaquecendo-as.
(viii) Podas frequentes e renovação da lavoura: rejuvenescem as plantas estimulando o lançamento de folhas, com benefícios à fotossíntese.
(ix) Adubação equilibrada: atua em todos os processos fisiológicos do cafeeiro por isso é uma das mais importantes ferramentas para prevenir danos causados pelas altas temperaturas.
(x) Calagem e gessagem: corrigem a acidez e eliminar o alumínio em profundidade estimulando o crescimento radicular.
(xi) Subsolagem: favorece uma maior infiltração de água no solo e melhora sua aeração e drenagem facilitando a penetração das raízes.
(xii) Proteção das plantas: mantem a sanidade do cafeeiro proporcionar-lhes melhores condições para combater o estresse.
(xiii) Matéria orgânica: melhora as propriedades físicas do solo, criando um ambiente mais favorável ao crescimento das raízes.
(xiv) Cafeicultura regenerativa: trazer para cafeicultura convencional alguns conceitos como o uso de cultivares resistentes a doenças e a seca, material orgânico, plantas de cobertura e o controle biológico, entre outros benefícios, visando promover um maior equilíbrio entre o cafeeiro e o solo.
(xv) Variedades tolerantes ao calor: resistem melhor as altas temperaturas.
(xvi) Monitoramento constante do clima: ajuda nas tomadas de decisões.
Frente aos frequentes desequilíbrios do clima, cafeicultores e consultores precisam estar atentos a essas e outras ações e incorporá-las à rotina de planejamento e execução das práticas de manejo, em todas as fases do cultivo do cafeeiro. Caso contrário, correm o risco de ter que encerrar suas atividades na cafeicultura e migrar para outras culturas. Essas estratégias têm como foco, voltar as atenções aos desequilíbrios ambientais, destacando a necessidade de ações preventivas para garantir a qualidade, longevidade e sustentabilidade da produção de café.
Na minha opinião, até que tenhamos variedades de café com comprovada tolerância ao estresse térmico, seja por meio de melhoramento convencional ou biotecnologia, ou até que o clima retorne a um ciclo de normalidade e tenhamos uma faixa de temperatura favorável ao cultivo do café, estaremos em um caminho sem volta e ações que tem como base a transpiração e o crescimento radicular, são fundamentais para o sucesso.
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