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T Ó P I C O : De Mumbai a Dubai: aproxima-se novo ciclo de prosperidade nos cinturões cafeeiros do Brasil - Por Celso Vegro

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De Mumbai a Dubai: aproxima-se novo ciclo de prosperidade nos cinturões cafeeiros do Brasil - Por Celso Vegro


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 17/03/2025 20:45:39


Leonardo Assad Aoun comentou em: 17/03/2025 18:02

 

De Mumbai a Dubai: aproxima-se novo ciclo de prosperidade nos cinturões cafeeiros do Brasil - Por Celso Vegro

 

Há quase dois séculos exercendo a liderança na produção, exportação e vice-líder no consumo da bebida, o Brasil, constitui o país mais relevante no contexto cafeeiro global. Entretanto, em decorrência das consequências das mudanças climáticas (geada, granizo, estiagem, altas temperaturas, veranicos), as ofertas brasileiras nas últimas três safras, assim como as do Vietnã e da Indonésia (robustas) na última safra, correram abaixo das expectativas iniciais. Tal ocorrência se confronta com uma retomada do consumo pós pandemia associado a um crescimento acelerado da demanda pelo mercado chinês (atualmente, país detentor do maior número de cafeterias no mundo). Calcula-se que sejam necessárias aproximadamente 500 mil sacas ao dia para atender a demanda mundial. Ademais, devido à escassez de oferta o consumo de estoques se acelerou, encontrando-se no menor nível dos últimos 25 anos!

Elemento adicional, pouco comentado, consiste nos desdobramentos comerciais da rolagem dos contratos futuros de cafeicultores impactados pela geada. Embora não tenha afetado a produção que já estava garantida, a elevação instantânea das cotações levou muitos a solicitarem rolagem junto aos traders possuidores dos contratos. Essa renegociação comprometeu a arquitetura financeira estruturante das operações comerciais, pressionando o caixa das traders que em razão da escalada das cotações viram-se na situação de contínuas chamadas de vultosas margens. 

O comprometimento logístico, também, responde por seu quinhão na alta das cotações. Os riscos de se navegar pelo Mar Vermelho, devido as ações de piratas, implicou em mais que dobrar a distância do percurso até os principais portos europeus. Aumento do tempo de locação dos navios armadores, maior consumo de diesel e encarecimento do seguro, impactaram fortemente o custo do frete marítimo, encarecendo todas as mercadorias transacionadas internacionalmente. Essa condição logística associada a queda vertiginosa dos estoques sepultou definitivamente a estratégia “just in time” dos importadores. No atual momento atua-se exclusivamente no modo da “mão para a boca”!

Esse contexto de mercado fez prevalecer a pauta do físico sobre o financeiro nas praças de formação dos preços (bolsas de mercadorias). De fato, a partir do segundo semestre de 2024, as cotações ganharam impulso, alcançando valores recordes dos últimos 40 anos! 

No mercado interno a desvalorização do real, a partir do quarto trimestre de 2024 e primeiro bimestre de 2025, estimulou as vendas externas (recorde de exportações), pressionando os preços domésticos, posicionando o café torrado e moído como um dos vilões da inflação no varejo de alimentos de 2025.

Em 2025, as cotações do café verde alcançaram patamares que não se observavam há cinco décadas. Mesmo sob início da colheita no Vietnã, as cotações declinaram apenas na margem. No Brasil, o veranico associado as altas temperaturas nos principais cinturões de arábica e robusta brasileiros, mantiveram incertezas quanto ao volume real da safra corrente (em preparação para colheita). Ocorrências de coração negro nos frutos em formação e diminuição da peneira média são esperadas. Na entressafra brasileira de café contabiliza queda nas exportações (auxiliadas que foram pela operação tartaruga da receita federal atuante nos portos de embarque). 

Outros países concorrentes também enfrentam desafios na cafeicultura. Na América Central a imigração compromete a oferta de mão de obra para as demandas do mercado, particularmente, da agricultura. Na Colômbia, após inúmeros programas de apoio à produção, mantém-se estagnada entre os 12 e 14 milhões de sacas ofertadas anualmente.  Há países em que a oferta doméstica não atende mais o consumo, situando-se nas bordas de se tornarem países consumidores (México e Índia). Conflagração/instabilidade geopolítica entre países africanos dificulta a instalação de projetos de longo prazo. Enfim, não há boas notícias no cenário cafeeiro global.

Diante desse rol de constatações factuais, aparentemente, vislumbra-se um clima para o início da atual colheita brasileira das mais promissoras. Apanhadores de café com diárias de R$200,00 a R$250,00 ou recebendo de R$40,00 a R$50,00 por medida (60l – apanhando entre 6 a 8 medidas por dia), poderão obter rendimentos acima de qualquer outra ocupação urbana de natureza precária (uberizados, ambulantes, terceirizados). Imaginemos que um terço da cafeicultura recorra a apanhadores, ou seja, 20 milhões de sacas tenham passado pelas mãos desse exército de trabalhadores e, ainda, que 120 milhões de medidas bastem para formar esse volume de café verde, a remuneração global desse contingente de apanhadores atinge R$4,8 bilhões (contabilizando pelo mínimo pagamento da medida). As derriçadoras costais serão as vedetes da colheita que se avizinha. Desse contexto também se beneficiam as empresas terceirizadas de frota de colhedoras e das demais máquinas e equipamentos empregados no manejo da cultura.

Porém serão os cafeicultores os maiores beneficiados pelo ciclo de prosperidade que se aproxima. Uma safra de 60 milhões de sacas poderá render aos preços atuais algo como R$135 bilhões (estimando 18 msc de conilon+robusta e 42 msc de arábica)! Algo como 200% de rentabilidade frente ao custo unitário. A circulação monetária nos cinturões cafeeiros brasileiros será monumental, ativando investimentos (na lavoura – energia solar, irrigação, recuperação da fertilidade, renovação de talhões e novos plantios com mais tecnologia – e fora dela), no comércio e serviços. 

O comércio exportador será amplamente favorecido com os ingressos do provenientes dos negócios internacionais. Talvez algo como US$15 bilhões sejam adicionados pelo comércio de café ao saldo da balança comercial brasileira, favorecendo a queda da inflação devido à valorização do real, evidentemente, apoiado pelas demais commodities transacionadas que exibem, igualmente, situação favorável de preços. 

Os infindáveis anos de Mumbai nos cinturões cafeeiros do Brasil ficaram para trás. Nova realidade mais próxima da de Dubai aparece no horizonte. Sim, alguns cafeicultores ainda entregaram parte de seu café a preços do início de 2024 (talvez menos de 20% deles, honrando os contratos futuros celebrados), mas grande contingente vai se beneficiar desses preços que deverão perdurar, pois o novo normal para a produção consiste na ocorrência de distúrbios climáticos que pressionarão o potencial de oferta do país e alhures. 

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA

celvegro@sp.gov.br

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