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T Ó P I C O : Cafeicultura enfrenta nova safra de perdas

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Cafeicultura enfrenta nova safra de perdas


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 19/05/2025 17:15:27


Leonardo Assad Aoun comentou em: 19/05/2025 11:58

 

Cafeicultura enfrenta nova safra de perdas e futuro depende de preços; leia a entrevista

 

Marcelo Jordão, da Fundação Procafé, destaca que a cultura sofre com as mudanças climáticas

Por Isadora Camargo — São Paulo/Globo Rural

Marcelo Jordão, coordenador de unidade da pesquisa da Fundação Procafé em Franca (SP)

Marcelo Jordão, coordenador de unidade da pesquisa da Fundação Procafé em Franca (SP) — Foto: Ricardo Benichio

A cafeicultura brasileira está, por um lado, cada vez mais atrativa, graças aos rendimentos recordes, mas, por outro, teve perdas nos últimos anos, decorrentes de problemas climáticos. Na atual safra (2025/26), as plantas continuam sofrendo com as consequências do clima adverso: a colheita deste ciclo vai começar agora em maio e deverá se estender até meados de setembro, um quadro que pede atenção redobrada, avalia o especialista Marcelo Jordão, coordenador da unidade de pesquisa da Fundação Procafé em Franca (SP).

Jordão, que é engenheiro agrônomo e consultor técnico em cafeicultura, diz que o segredo para manter a qualidade do grão sob as condições atuais inclui planejar, irrigar e cuidar das etapas de secagem, torra e armazenamento. Além disso, investir em correção de solo e irrigação será determinante para conseguir melhorar a produtividade a partir da safra 2026/27.

À Globo Rural, Jordão falou sobre a situação atual dos cafezais brasileiros e sobre os caminhos para o produtor ter uma cafeicultura moderna, sustentável e que atenda às novas exigências do paladar de consumidores de todo o mundo.

Globo Rural: Há um cenário catastrófico na cafeicultura brasileira nesta safra, como alegam alguns produtores?

Marcelo Jordão: O cenário da safra 2025/26 é desafiador em relação à anterior porque nós tivemos situações climáticas extremamente adversas no ciclo de 2024/25, que trouxe um intenso déficit hídrico. O encerramento precoce das chuvas, em abril de 2024, associou-se a altas temperaturas, com um período seco até setembro do ano passado.

Além disso, as chuvas tardias de outubro definiram um quadro climático extremamente desfavorável para o café. Outro agravante foi o índice de desfolhamento das plantas, que são uma proteção do vegetal em momentos em que falta água. Isso diminuiu a capacidade do fruto de se tornar grão. A desidratação das lavouras comprometeu também o pegamento da florada que dá origem à safra 2025/26.

Como se tudo isso já não bastasse, tivemos ainda um veranico de 30 a 40 dias, entre os meses de fevereiro e março de 2025, que reduziu o tamanho e o número de grãos por planta.

GR: O que acontecerá com os grãos que os produtores vão colher em maio?

Jordão: A associação entre temperatura alta e restrição hídrica bem na fase de granação atrapalhou o tamanho dos grãos por planta, uma situação parecida com a da safra 2023/24. Naquela ocasião, entretanto, o produtor só percebeu que os grãos estavam pequenos quando foi beneficiar o café. Com isso, o rendimento em sacas foi menor.

No caso desta safra, ao monitorar várias lavouras, já notamos a diminuição do grão, um sinal de que o volume da colheita será menor. Assim, o desafio que o cafeicultor vai enfrentar é descobrir quanto do café que ele tem no pé de fato se converterá em sacas beneficiadas por hectare.

GR: Quais cuidados serão cruciais para os trabalhos de campo na colheita, de maio até setembro?

Jordão: Os produtores que contam com irrigação, cerca de 25% do total no Brasil, tiveram a oportunidade de melhorar a condição dos frutos em grãos durante o veranico do início de 2025. Mas, para quem não teve como corrigir o déficit hídrico, não há um produto ou técnica que seja capaz de salvar o café no momento do trabalho de campo.

Muitas lavouras estão com maturação irregular, o que é comum em uma situação em que o fruto está vindo em um desenvolvimento normal e, de repente, acontece uma restrição hídrica. E se essa planta está com um desbalanço nutricional, por exemplo, a tendência é que ela adiante a sua maturação para poder desocupar a rama (caindo no chão, consequentemente).

No caso dos cafés especiais, é possível fazer uma colheita seletiva, mas isso não é algo que funcionaria para a maior parte da produção no Brasil. Produtores com problemas na fase de maturação podem se concentrar na garantia de qualidade dos grãos que conseguirem salvar durante a fase da pós-colheita.

GR: A irrigação assegura a continuidade da cafeicultura no país?

Jordão: A irrigação é uma garantia do futuro da cafeicultura porque, se há gestão de água no cafezal, o risco é muito menor. E, atualmente, o que limita a implementação da irrigação já não é mais o custo financeiro, mas a disponibilidade hídrica nas propriedades. Em algumas microrregiões localizadas em altitudes mais elevadas, não se tem a necessidade de irrigar os cafezais, mas elas representam a menor parte do território de plantio de café no Brasil.

GR: Existe cultivo de café em diferentes regiões do país. Consideradas todas elas, é viável, em um quadro de mudanças climáticas, expandir o plantio?

Jordão: Para se implementar uma lavoura de café, é preciso observar vários pontos. O primeiro deles é a disponibilidade hídrica na propriedade. O segundo é o tipo de solo. Depois, é necessário fazer um levantamento planialtimétrico com um drone para entender como posicionar a nova lavoura. Isso ajuda a definir, por exemplo, o sentido da entrelinha em relação ao sol.

Só então aquele ambiente passa a ser considerado um local para o plantio, e a posição determinará, também, como serão o manejo e a mecanização.

Além disso, a exposição à luz de norte a sul nas linhas de plantio também é fator determinante para favorecer ou não o cultivo de café. Definidos o sentido da linha e as cultivares, passa-se a decidir os espaçamentos da lavoura. Se o cultivo for mecanizado, será necessário adotar linhas mais distantes uma da outra. Mas se a área é de montanha, por exemplo, o cultivo será mais adensado, e o espaçamento nas entrelinhas, menor. Só depois dessas definições é que se parte para o preparo do solo.

"Aparentemente, a safra 2026 tem bom potencial, (...) o produtor precisa investir em ferramenas que ajudem a mitigar o risco climático — Foto: Ricardo Benichio"Aparentemente, a safra 2026 tem bom potencial, (...) o produtor precisa investir em ferramenas que ajudem a mitigar o risco climático — Foto: Ricardo Benichio

GR: E como deve ser o preparo de solo para que a terra consiga suportar os extremos climáticos e as adversidades que o cafeicultor não controla?

Jordão: Pensando em uma cafeicultura moderna, o produtor tem que construir um perfil de solo nutricional equilibrado, em particular, nas bases de macronutrientes, como cálcio, magnésio e potássio.

Esses elementos têm que estar em equilíbrio. Mas não se pode esquecer dos micronutrientes, como zinco, manganês, boro e cobre, que são importantes e devem ser considerados na implantação de uma lavoura.

Um preparo de solo mais profundo exige também um revolvimento da terra. Definida a parte nutricional, vem a parte da mecanização. Antes do plantio, introduz-se a variedade de café selecionada para aquele ambiente.

GR: E para o cafeicultor que está substituindo sua lavoura?

Jordão: O termômetro para substituir um cafezal é a produtividade. Para isso, há duas técnicas: a renovação por meio de poda drástica, chamada de recepa, em que o cafeicultor corta embaixo da planta para que ela renove sua copa.

Pode-se fazer a recepa quando a lavoura está com espaçamento e cultivar adequados. Caso a lavoura não se enquadre nessa situação, parte-se para uma renovação por arranquio, que é a retirada total da planta de café do solo.

Se o arranquio for a opção escolhida, será necessário fazer um novo preparo de solo antes de implementar outra lavoura. E é muito importante que se faça um revolvimento bom do terreno e se retire os restos das raízes da cultura anterior. Isso evitará problemas como os nematoides, que atacam o sistema radicular do café. O ideal é que se implemente um cultivo intercalar durante um intervalo de um ano para, então, se retomar o cafezal.

GR: Qual a tendência para as lavouras brasileiras na próxima safra?

Jordão: Existe uma tendência de redução do arranquio, porque os preços do café estão elevados nas bolsas internacionais e também no mercado doméstico. Nesse quadro de preço alto, uma lavoura de baixa produtividade continua a ser rentável.

Em anos assim, o produtor deixa de arrancar essas plantas. Quando o preço do café recua, a lavoura de baixa produtividade começa a dar prejuízo. É nesse momento que o cafeicultor faz a renovação. Em geral, o cafeicultor tem consciência de que há variedades mais produtivas, mais modernas, o que estimula a prática da renovação.

GR: Os preços do café devem continuar em torno dos níveis recordes ou existe a possibilidade de que, em algum momento, eles retornem ao patamar de US$ 2 por libra-peso na Bolsa de Nova York?

Jordão: Para responder a essa pergunta, preciso voltar até a temporada 2020/21, que foi a última safra boa no Brasil. A produtividade e a remuneração foram ótimas. Entretanto, de 2020 para cá, tivemos geada, seca, granizo e outras intempéries, que reduziram o volume da colheita de café. Em paralelo, para equilibrar a situação, houve uma correção de preços para cima.

Também há fatores internacionais nessa equação, como a quebra de safra no Vietnã e a diminuição dos estoques globais. Todos esses componentes me levam a crer que o momento é de oportunidade para o produtor brasileiro se remunerar e se recuperar do quadro de aperto financeiro dos últimos cinco anos – e a maioria teve quebra de safra em algum dos ciclos de 2021 em diante e ficou com o caixa comprometido. Acredito, então, que o produtor ainda vai desfrutar de preços bons nos próximos anos. O mundo ainda está sem estoque de café, e o consumo tem aumentado.

GR: Quando os produtores de café voltarão a ter um ciclo mais equilibrado? Existe alguma perspectiva?

Jordão: Eu diria que, aparentemente, a safra 2026 tem bom potencial. Para os ciclos de 2027 em diante, não dá para fazer uma previsão. Até lá, o produtor vai precisar investir em ferramentas que ajudem a mitigar o risco climático, como a irrigação ou um bom manejo, que deixe a planta mais resiliente para condições de estresse hídrico, por exemplo, além de uma boa correção do solo.

O segredo de tudo isso é o cafeicultor manter boa produtividade. Nem sempre a fazenda que tem muita tecnologia é a mais produtiva, já que existe um arranjo de planejamento da propriedade que envolve pessoas, e eu acredito que esse é o ponto mais importante dentro dessas fazendas. Montar um bom planejamento, trabalhar de forma preventiva e preditiva, faz com que a lavoura seja mais rentável.

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