Leonardo Assad Aoun comentou em: 30/06/2025 17:19

No limite: Safra de café no Brasil em 2025 não deixa margem para estoques de passagem

Combinação de oferta restrita e demanda aquecida impulsiona redução dos estoques brasileiros

"De forma geral, a safra brasileira de café 2025 (somando o arábica e conilon) é insuficiente para chegarmos no final dessa temporada com estoque sobrando", afirmou o analista de café da StoneX, Fernando Maximiliano. 

No Brasil, já são cinco safras em que a produção não renova o recorde. A temporada 2020/21 foi a última em que o volume colhido ficou acima de 60 milhões de sacas, de acordo com dados da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento). Sem grandes aumentos de produção, os estoques cafeeiros foram ficando cada vez mais apertados, uma vez que a demanda mundial permaneceu firme.

Segundo Maximiliano, apesar de não ter uma produção expressiva em 2024, o Brasil atingiu números recordes de exportação, com mais de 50 milhões de sacas, "nós exportamos muito no ano passado por conta de vários motivos: preços elevados no exterior, antecipação do UDR, que depois foi até postergada, mas isso contribuiu para que o continente Europeu importasse mais café. Então, isso tudo contribuiu para que chegássemos no primeiro trimestre de 2025 com estoque em níveis ainda mais baixos. E a perspectiva não é que esses estoques caiam ainda mais em 2025, pois eles já estão em níveis historicamente baixos há anos. Esse cenário não deve mudar, o problema vai persistir. A gente precisaria de uma safra muito maior para construir estoques de fato", explicou.  

Um relatório divulgado na semana passada pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), apontou que a safra brasileira 25/26 está prevista em 65 milhões de sacas, sendo 24,10 milhões de robusta e 40,90 milhões de arábica, e o estoque de passagem deve encerrar em apenas 1,70 milhão de sacas. "Segundo essa previsão do USDA, o Brasil terá um estoque de passagem da safra 24/25 para a safra atual 25/26 em apenas 640 mil sacas. Se correto, esse estoque não consegue abastecer nem mesmo um mês do consumo interno brasileiro", alertou o analista de mercado da Archer Consulting, Marcelo Moreira.

Atualmente, os preços do café vêm apresentando fortes quedas, um movimento esperado diante da pressão da entrada de uma nova safra no mercado. Mas, com isso, o interesse por compras para recomposição dos estoques está baixo, conforme esclarece o analista e consultor em agronegócios, Lúcio Dias,  "agora começa o verão na Europa, na América do Norte e em grande parte da Ásia. E nesse momento, os compradores preferem continuar gastando seus estoques para não precisar comprar nos atuais níveis de preço", completou. 

Já o analista de mercado do Escritório Carvalhaes, Eduardo Carvalhaes, destaca que o estoque existente está, na prática, zerado, "quem guardou café com os bons preços que estavam no começo deste ano, não quer vender com a atual desvalorização do produto. Como no ano passado, nós chegamos no mês de março de língua de fora, com pouquíssimo café, com dificuldade dos compradores de conseguir o café necessário, e isso deve acontecer de novo. Vamos depender da nova safra de 2026, que já começou a especulação em cima dela, mas temos que esperar esse inverno, como sempre, esperar a primavera, as chuvas, depois quais serão as temperaturas no verão de 2026 para aí saber o que vai acontecer com a próxima safra. Mas, fato, por melhor que ela seja, mesmo que sobre algum café, nós não vamos formar estoques confortáveis no Brasil tão cedo. E isso parece que está acontecendo também com a América Central, com a Colômbia, com todos os países produtores. Portanto, essa situação de vivermos da safra produzida do ano deve continuar", esclareceu.

Mesmo com os estoques remanescentes de safras anteriores extremamente baixos, o Conselho Nacional do Café (CNC)  reforça: não vai faltar café para abastecer o mercado. 

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