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T Ó P I C O : ENERGINZANDO O MERCADO DE CAFÉ - POR CELSO VEGRO

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ENERGINZANDO O MERCADO DE CAFÉ - POR CELSO VEGRO


Autor: Leonardo Assad Aoun

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Último comentário neste tópico em: 14/07/2025 16:55:21


Leonardo Assad Aoun comentou em: 14/07/2025 16:31

 

ENERGINZANDO O MERCADO DE CAFÉ - POR CELSO VEGRO

 

A cafeína é um alcaloide presente em várias plantas, tendo no guaraná a mais elevada concentração encontrada no reino vegetal. O café, particularmente da espécie Canephora, possui significativa concentração de cafeína, sendo essa origem do alcaloide aquela comercialmente mais frequente.

São largamente conhecidos os efeitos estimulantes da cafeína por suas capacidades tanto em manter o estado de alerta como o de reduzir fadiga. Sua ação ocorre no bloqueio de neurotransmissor responsável pela sonolência. Mais recentemente, passou a ser sistematicamente empregada também na melhoria do desempenho físico em atividades aeróbicas.

Há décadas a cafeína compõe medicamentos destinados a mitigar a cefaleia/enxaqueca, resfriados e antialérgicos além de moderadores de apetite1. O pó branco de gosto muito amargo possui capacidade vasoconstritora, sendo eficaz no tratamento não curativo da enfermidade. A indústria farmacêutica, reconhecendo a existência de uma epidemia de enxaqueca no mundo moderno possui várias linhas de medicamentos contendo cafeína.  

O café insere-se no mercado de bebidas (soft drinks) e, historicamente, constitui a fonte primordial de consumo de cafeína. Bebidas gaseificadas passaram a incorporar a cafeína em suas formulações, tornando-se em poucas décadas recordistas em vendas no mercado de bebidas por todos os continentes.

Os conglomerados de produção e distribuição de bebidas buscam, continuamente, espaços para a acumulação capitalista. Assim, novos mercados são desenvolvidos, sendo na atualidade o mercado de bebidas energéticas (saborizadas ou não)  um daqueles de maior êxito. Em média cada 100 ml desse tipo de bebida contém 30 miligramas do alcaloide2.

No Brasil, acompanhamos uma verdadeira explosão no consumo de energéticos. Em 2020 estimou-se uma demanda de 151 milhões de litros3. Diante da contínua expansão do espaço em gondolas dos supermercados para a exposição das bebidas energéticas, não escorrega para o exagero considerar que a demanda por essas bebidas se situe em torno dos 200 milhões de litros. 

As indústrias de bebidas energéticas, com raras exceções, preparam seus produtos com emprego de cafeína sintética. Essa molécula possui os mesmos efeitos no organismo humano daquela obtida das plantas, porém com impacto mais imediato, enquanto a natural tem repercussões mais prolongadas pois carrega consigo flavonoides antioxidantes. 

A concentração de cafeína no café Canephora (robusta e conilon) oscila entre os 2,2% a 2,7%4. Para efeito da produção de estimativas, adotou-se o ponto intermediário de 2,5% como média de concentração do alcaloide. Assim, a obtenção de 1,0 kg de cafeína demanda, aproximadamente, 40kg de café verde. Seguindo o mesmo raciocínio, 1,0 litro de energético demandaria 300 mg de cafeína. Para atender a demanda por cafeína dos 200 milhões de litros, aproximadamente 40 mil sacas de café teriam que ser processadas anualmente para extração do alcaloide.

Diante do porte atual desse mercado associado a um eventual empoçamento de café que seria embarcado para os EUA, em razão do choque tarifário decretado pelo mandatário daquele país, uma regulamentação determinando que as indústrias de bebidas energéticas substituíssem o emprego da cafeína sintética pela derivada do café (ou guaraná), seria uma possível alternativa paliativa até o redirecionamento do café que teria por destino os EUA.

A adoção da cafeína natural iria encontrar grande aceitação por parte dos consumidores. Um dos redutos de consumo dos energéticos são os frequentadores de academias que têm na cultura da vida saudável que subtrai alimentos ultraprocessados/sintéticos, um de seus pilares.   

1 MONTAGNER, Cassiana Carolina et al. A cafeína no ambiente. In: CAFEÍNA em águas de abastecimento público no Brasil. Edição de Maria Cristina Canela. São Carlos, SP: Cubo, c2014. 96 p., il. ISBN 9788560064458 (broch.). Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=62433&opt=1

2 Ver: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1155/2023/9938190 Acesso em 14/07/2025

3 Ver: https://jornaldebrasilia.com.br/blogs-e-colunas/analice-nicolau/consumo-de-energeticos-no-brasil-cresce-e-especialistas-alertam-para-riscos-na-saude / Acesso em 14/07/2025.    

4 Disponível em: https://foodnhotelasia.com/glossary/horeca/robusta-coffee/#:~:text=Uma%20das%20principais%20caracter%C3%ADsticas%20que,atua%20como%20um%20pesticida%20natural. Acesso em 14/07/2025. 

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico VI do IEA.

celvegro@sp.gov.br 

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