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T Ó P I C O : A Queda de Roma

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Comentários do Tópico

A Queda de Roma


Autor: Celso Luis Rodrigues Vegro

1.834 visitas

8 comentários

Último comentário neste tópico em: 27/07/2016 08:53:21


Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 25/07/2016 12:50

 

A Queda de Roma

 

Tácito, historiador romano do I Século da Era Cristã legou-nos relato sobre a natureza dos imperadores e da vida palaciana desse período. De seus escritos provém a narrativa sobre o incêndio ocorrido em 64 d.c., aparentemente, encomendado por Nero (tirano que para defender seu trono executou seu meio irmão Britânico e sua mãe Messalina). Interessado em ampliar seu palácio, ordenou que se queimassem as ínsulas circundantes (espécie de condomínios em que habitavam os romanos). Com requinte de crueldade para com seus súditos, acompanhado de sua lira, deliciou-se com a tragédia alheia. O incêndio, em seis dias, transformou em cinzas dez dos quatorze distritos da capital do império, até então construída em madeira. Roma caía pela primeira vez1!

 

Passaram-se os séculos, mas os impérios apenas se sucederam uns aos outros ao longo dos tempos. Desde o pós II Guerra Mundial2, os Estados Unidos da América assumiu esse posto de força dominante. Um de seus braços de poder imperial assenta-se no Departamento de Agricultura que produz, há décadas, estatísticas norteadoras para a formação de vários preços no mercado de soft commodities.

 

Entre os investidores no mercado de café arábica da Bolsa de Nova York, inexiste quem não se baseie nas estatísticas do Departamento de Agricultura Estadunidense para estabelecer suas posições nesse mercado. Por maior que sejam os esforços em prover o mercado de números confiáveis, tanto a OIC como a CONAB/IBGE são olimpicamente ignorados.

 

O relatório do departamento para a safra de café 2016/17, de junho passado, prevê que a produção mundial será da ordem de 155,69 milhões de sacas (arábica e robusta), representando incremento de 2,40 milhões de sacas frente à safra anterior (alta modesta de 1,57%)3. A previsão para a colheita brasileira é de alcançar 55,95 milhões de sacas, sendo 43,85 milhões de arábica e 12,10 milhões de conilon (quantidade essa totalmente repudiada pelos especialistas em conilon capixabas). Por sua vez, a CONAB, previu em seu segundo levantamento de safra de café, de maio passado, colheita de 49,69 milhões de sacas4. Caso se acrescente cerca de 3,0 milhões de sacas provenientes da catação5, a colheita brasileira se aproximaria de 52,50 milhões de sacas e ainda assim divergência de 3,45 milhões de sacas frente ao estabelecido pelo departamento. Assim, apenas prognóstico mais preciso sobre a safra brasileira já seria suficiente para reverter de incremento para déficit na oferta mundial.

 

A estimativa de estoques de passagem foi estabelecida pelo departamento em 35,40 milhões de sacas. Somado esse estoque à previsão de produção, tem-se a oferta total de 191,09 milhões de sacas para a safra 2016/17. O mesmo relatório prevê que o consumo atinja 150,81 milhões de sacas. Portanto, o estoque final deveria totalizar 40,28 milhões de sacas. Entretanto, surpreendentemente, o relatório informa que os estoques finais contabilizariam apenas 31,50 milhões de sacas, ou seja, divergência interna do relatório de 8,78 milhões de sacas!

 

Para encerrar a safra contabilizando 31,50 milhões de sacas em estoques ou há sobrestimativa na produção, que deveria ser de 146,91 milhões de sacas ou subestimativa no consumo que deveria atingir 159,59 milhões de sacas.  Caso o consumo estivesse tão acima da produção, haveria forte sinalização dos preços algo que, timidamente, começa a se observar no presente momento (julho/2015). Aparentemente, a divergência estatística do departamento de agricultura estadunidense concentra-se na produção mundial, particularmente, na safra brasileira de conilon que deverá sofrer revisões baixistas nas próximas tabulações tanto do departamento como da CONAB.

 

O relatório do departamento estima, ainda, que os estoques brasileiros em junho de 2016 somavam 2,26 milhões de sacas, prevendo que para a próxima safra (2016/17) o armazenamento atingiria 2,53 msc. Em contrapartida, a CONAB, em julho do mesmo ano, lançou sua pesquisa de estoques privados de café referenciado em março/2016, contabilizando existência de 13,59 msc, ou seja, 5,4% de queda frente a mesma data do ano anterior. Tomando como referência o período abril/maio e parte de junho (pico da entressafra de café no Brasil) e, considerando médias de 2,70 msc de exportações mensais e de 1,60 msc para o consumo interno, os estoques privados estariam reduzidos a pouco mais 5,10 msc ao início de agosto de 2016, elevando-se para 6,60 msc quando somados aos estoques públicos. Podendo a safra (produção mais catação) atingir os 52,50 msc, os estoques de passagem (para suprir os meses de abril, maio e junho de 2017), a quantidade armazenada será absolutamente insuficiente para atender a demanda do mercado (exportação mais consumo). Portanto, o departamento ao referenciar o fechamento da safra 2016/17 com 2,53 msc disponíveis no Brasil, comete mais um equívoco na projeção no montante dos estoques mundiais, que de 8,78 msc pulariam para 11,31milhões de sacas.

 

Gerar estimativas de oferta e demanda que produzem incremento dos estoques mundiais, repercute diretamente sobre as expectativas que formam as cotações do produto. Adicionar 11,31 msc ao estoque mundial pode ser a motivação que mantém os investidores do mercado de café céticos frente ao patamar de US$¢2,00lbp, cotação plausível caso estimativa menos fantasiosa fosse a divulgada pelo o “honrado” departamento de agricultura estadunidense.

 

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA

celvegro@iea.sp.gov.br

 

 

1 Há controvérsias sobre o papel do tirano no incêndio, pois a história foi enfatizada pelos historiadores cristãos. De qualquer modo, Nero, procurando desviar sua explicita intenção, responsabilizou-os pelo fato. Nunca antes a arena do Coliseu vivenciou dias tão sangrentos como aqueles que se seguiram a catástrofe. Roma, nos períodos de Vespasiano e de Tito foi totalmente reconstruída em mármore e perdurou por mais 400 anos.

 

2 Até o Pós II Guerra, o Império Britânico era mundialmente hegemônico. Curiosamente, após sua primeira queda com a perda de suas colônias e esforço de reconstrução, caminha atualmente para sua segunda derrocada, decorrente da malfadada escolha por parte de sua população em romper com o projeto em construção da União Europeia.

 

3 Ver: http://apps.fas.usda.gov/psdonline/circulars/coffee.pdf

 

4 Disponível em: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_06_10_15_13_24_boletim_cafe_-_maio_2016.pdf

 

5 Estimativa subjetiva sobre o montante representado pela catação nas lavouras brasileiras foi calculado por VEGRO, C.L.R (2016). Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/LerTexto.php?codTexto=13998

 

6 Tabulação de 758 questionários preenchidos por armazenadores privados. Ver: http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/16_07_22_11_05_12_relat_cafe_final_2016.pdf

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Paulo Henrique Leme comentou em: 25/07/2016 18:10

 

Pior de tudo...

 

Pior de tudo é a cafeicultura brasileira ser refém de análises externas.

Excelente análise Celso.

O ideal seria um questionamento oficial das lideranças brasileiras sobre o tema...

Um abraço,

PH

 

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Marco Antonio Jacob comentou em: 25/07/2016 22:28

 

Quem tem boca vai a Roma

 

A leniencia dos cafeicultores é irritante , fui uma vez alertado que é impossivel mudar o "status quo" na cafeicultura brasileira , na época duvidei , hoje só posso concordar , infelizmente.

Somos obrigados a nos fidar em dados internacionais porque somos incapazes de gerar dados com o minimo de respeitabilidade .

A prostituta só consegue a independencia do cafetão atravéz da independencia financeira.

Quem tem boca vai a Roma , mas no caso em tela , as bocas são costuradas para se calarem , assim não poderão obter a almejada independencia .

Vida longa aos cafetões.

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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 26/07/2016 08:59

 

Questionamentos

 

Prezado PH

O que nos tornam verdadeiros cientistas não se afirma nos trabalhos e títulos conquistados, mas na busca incessante de responder as inquietações pessoais. Condição para questionar os chamados líderes do agronegócio eu não possuo, mas para mim mesmo faço-o sem titubear.

Quem tem ouvidos que ouça.

Abçs

Celso Vegro

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Arnaldo Reis Caldeira Júnior comentou em: 26/07/2016 09:33

 

Lideranças da cafeicultura ??

 

Senhores, parabéns ao ARTIGO e aos comentários.

Liderança nas cafeicultura ? Façam me rir. Quando comecei questionar na FAEMG, a falta de ação para o setor e o simples bajulemento à KATIA ABREU - fui expurgado da Comissão de Café da FAEMG. Silenciosamente não fui mais convidado à participar de nada - quem manda por lá é a Kátia Abreu e o pesoal da COOXUPÉ. Jatinho pra lá, jatinho pra cá.

Não representam os cafeicultores ou se representam não os defendem adequadamente.

 

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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 26/07/2016 18:18

 

Denunciar as injustiças

 

Prezado Marco

​Ato de coragem é não se calar diante das injustiças. Temos lideranças com essa capacidade e creio que logo entrarão em cena.

​Abçs.

Celso

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Arnaldo Reis Caldeira Júnior comentou em: 26/07/2016 19:14

 

Sentado

 

Pode esperar sentado Sr. Celso. Pois estão deitados em berço esplêndido.

Agora seria interessante dar nomes aos bois ou seja poderia citar algumas lideranças com esta capacidade de AÇÃO ?

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Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 27/07/2016 08:46

 

Mantenhamos o alerta

 

Prezado Arnaldo

Sejamos nós os sentinelas sempre alertas desse negócio chamado café.

Abçs

Celso Vegro

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