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T Ó P I C O : África: a fronteira final para o consumo de café

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África: a fronteira final para o consumo de café


Autor: Eduardo Cesar

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Último comentário neste tópico em: 16/08/2018 09:41:42


Eduardo Cesar comentou em: 16/08/2018 09:57

 

África: a fronteira final para o consumo de café

 

Futuros consumidores de café? Créditos: Seth Doyle/Unsplash

Revista Negócio Café - Por Eduardo Cesar*

O continente africano é o berço da humanidade. E do café que move boa parte dessa humanidade! Foi naquela região do globo que nossos ancestrais surgiram. Muito tempo depois, os descendentes dos primeiros humanos descobriram uma frutinha vermelha que transformaria o mundo.

Hoje, o café é cultivado em dezenas de países que ocupam a região tropical do planeta e consumido em praticamente todas as nações. A quantidade de café que cada país consome varia muito. Onde a bebida é mais difundida, o consumo per capita passa de 3 quilos, em equivalente de grão verde. Em outros lugares, não passa de alguns gramas.

O café é consumido no mundo todo. Créditos: Elizabeth Tsung/Unsplash

Estados Unidos, Brasil e União Europeia estão no grupo dos grandes consumidores. Indonésia, Vietnã, China e Índia são alguns dos principais mercados emergentes. O consumo ainda é baixo neles, mas cresce rapidamente, animando os cafeicultores e os executivos da indústria.

Muita esperança tem sido depositada China, com sua imensa população e acelerado crescimento econômico. Depois de conquistar os consumidores asiáticos, restará uma última fronteira para a indústria do café: o lugar onde tudo começou.

O café na África

A África deu o café ao mundo, mas a cafeicultura do continente não se desenvolveu tanto quanto na América e, mais recentemente, na Ásia. Durante muito tempo os agricultores africanos não se interessaram pelo cultivo comercial do café.

Os governantes da Etiópia só começaram a se interessar pela exportação do grão no final do século XIX. Em outros países, governados pelos europeus, os pequenos agricultores foram marginalizados, e até proibidos de plantar café.

Café sombreado na Etiópia. Créditos: Domínio Público

No decorrer do século XX, o interesse dos europeus pelo cultivo de café na África cresceu. Foram feitos investimentos significativos na ampliação das lavouras. A tendência se intensificou após a Segunda Guerra Mundial e logo
os países africanos estavam entre os maiores concorrentes do Brasil.

A maioria dos países africanos obteve a independência no início da década de 1960, algo que não afetou as exportações, mas abriu caminho para os pequenos cafeicultores.

“Durante muito tempo os agricultores africanos não se interessaram pelo cultivo comercial de café”

O consumo de café sempre foi pequeno na África. Fatores históricos, culturais e econômicos podem ter contribuído para isso. O continente é o mais pobre do mundo. Guerra, violência, regimes autoritários e corrupção são empecilhos ao seu desenvolvimento.

Poucos anos atrás, a maioria dos africanos vivia abaixo da linha da pobreza. Comprar café numa situação dessas certamente não é uma possibilidade. Nos últimos anos, vários países conseguiram crescer, mas o consumo de café ainda é baixo.

De acordo com o USDA, o consumo de café na África aumentou de 6,0 para 8,1 milhões de sacas entre 2002/2003 e 2016/2017, um crescimento de 33,5%. No mundo, o aumento foi de 37,3%. Aparentemente, o crescimento africano não foi ruim, certo? Mas um olhar atento sobre os números mostra um cenário pessimista.

Ocorreu um grande aumentou na população africana no mesmo período. Com isso, o consumo per capita ficou estagnado em 0,4 quilo por pessoa nos últimos 13 anos. Em comparação, a média da América Latina e do Caribe foi de 2,8 quilos em 2016/2017. O consumo chegou a 1,6 no Leste da Ásia e 0,6 quilo no Sul da Ásia.

Consumo per capita de café em algumas regiões do mundo, em quilos de café verde. Dados: USDA e Banco Mundial. Nota: O México foi incluído em América Latina e Caribe

Outro problema é que o consumo do continente está concentrado em apenas dois países, Etiópia e Argélia. Em 2016/2017, 40% do consumo africano ocorreu na Etiópia, enquanto outros 27% foram na Argélia. Se tirarmos esses países da conta, o per capita do restante do continente é de apenas 0,1 quilo. Ou seja, beber café é algo desconhecido para a maioria dos africanos.

Distribuição do consumo de café pelo continente africano
em 2016/2017. Dados: USDA

As projeções apontam para 2,5 bilhões de africanos em 2050, um crescimento populacional de mais de 100% sobre o número atual. Em um cenário otimista, haverá uma demanda enorme para todos os setores da economia. A indústria de alimentos e bebidas terá que ampliar sua capacidade produtiva para atender todo este contingente. O café poderá ser um dos produtos mais beneficiados.

Se o consumo per capita do continente (Etiópia e Argélia inclusas) subir para 1 quilo até lá, a demanda total da região será de 41,7 milhões de sacas, incremento de 33 milhões sobre os números atuais. Se o crescimento for menor e o consumo chegar a 0,7, a demanda total será de 29,2 milhões de sacas.

São possibilidades animadoras para a cafeicultura mundial. Como viabilizar que o melhor cenário se concretize?

Futuro promissor

Em primeiro lugar, as nações africanas precisam continuar na trajetória do crescimento econômico. Elas devem oferecer uma ambiente de negócios atraente e seguro para empresários e agricultores, combater a violência e a corrupção, e consolidar a democracia.

Alguns países alcançaram boas taxas de crescimento econômico nos últimos anos. O crescimento se dá a partir de um nível de riqueza muito baixo, mas já foi o suficiente para tirar milhões de pessoas da pobreza extrema. Também é possível constatar que a democracia está cada vez mais difundida na região.

Crescimento médio do PIB dos países africanos entre 1995 e 2015

O desenvolvimento econômico da África poderá ser um dos acontecimentos mais importantes do século XXI. Com o aumento da urbanização e da renda, haverá uma demanda muito grande por alimentos, dos mais básicos aos mais sofisticados.

Mais da metade da população africana em 2050 será formada por pessoas com menos de 35 anos. As próximas décadas serão cruciais para a formação de novos hábitos de consumo na região. Será uma grande oportunidade para a indústria do café.

 

*Eduardo Cesar é editor da revista digital "Negócio Café". Possui doutorado e mestrado em administração pela UFLA e coordenou o Bureau de Inteligência Competitiva do Café. Estuda a cafeicultura desde 2005.


Artigo publicado originalmente na revista Negócio Café “número zero”. Faça a sua assinatura gratuita e receba conteúdo de qualidade todos os meses.

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