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T Ó P I C O : CAFÉ: QVO VADIS COVID 19

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CAFÉ: QVO VADIS COVID 19


Autor: Celso Luis Rodrigues Vegro

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Último comentário neste tópico em: 25/08/2020 18:11:46


Celso Luis Rodrigues Vegro comentou em: 24/08/2020 14:33

 

CAFÉ: QVO VADIS COVID 19

 

Os embarques brasileiros de café nos primeiros sete meses de 2020, período que contempla a decretação, pela autoridade de saúde pública mundial de emergência sanitária global (pandemia), denota satisfatório patamar para as vendas externas (apesar da menor oferta reflexo de safra de ciclo de baixa), contabilizando 22,94 milhões de sacas transacionadas com o exterior. Tal resultado representa ligeira redução de 2,47% frente a igual período do ano anterior, embora tenha exibido crescimento de dois dígitos nos embarques de conilon (16,45%) (Tabela 1).

TABELA 1 – Quantidade e valor dos embarques brasileiros de café, jan.-jul./2019 e 2020

Período

 

Conilon

 

Arábica

 

Industrializado

 

Total

Quantidade (sc)

 

 

Jan.-jul/2019

 

2.213.689

 

18.980.388

 

2.329.805

 

23.523.882

Jan.-jul/2020

 

2.577.933

 

17.987.664

 

2.363.027

 

22.942.451

Variação (%)

 

16,45

 

-5,23

 

1,42

 

-2,47

Valor (US$)

 

 

Jan.-jul/2019

 

190.381

 

2.436.098

 

346.814

 

2.973.293

Jan.-jul/2020

 

198.524

 

2.437.636

 

321.820

 

2.957.980

Variação (%)

 

4,28

 

0,06

 

-7,21

 

-0,51

Industrializado = torrado; torrado e moído e solúvel.

Fonte: Elaborado a partir de dados de RELATÓRIO1.

 

            A queda registrada na quantidade dos embarques nos primeiros sete meses do ano, comparativamente a igual período do ano anterior, não foi acompanhada por similar redução no resultado cambial, pois os US$2,96 bilhões capturados representam queda de apenas 0,51%.  O maior preço médio do período de US$128,57/sc (avanço de 3,06% frente a média do período de 2019), contribuiu na suavização dessa queda. Entretanto, esse pior desempenho decorre, fundamentalmente, da baixa de 7,21% no saldo proveniente dos embarques de café industrializado, especialmente, do solúvel.

 

            A safra brasileira de 2019/20 foi de ciclo de baixa, registrando, segundo o USDA 59,3 msc2. Em 2019, as exportações totais de café, recorde provisório da década, somaram 40,7 msc3. Ao final de março de 2020, os estoques privados continham pouco mais de 13 msc4. Em 2020, a estimativa para as exportações brasileiras podem ultrapassar as 42 msc embarcadas, portanto, novo recorde para a década (o segundo semestre costuma ser mais dinâmico para as vendas internacionais), uma vez que, o mesmo departamento estadunidense prevê recorde para a safra 2020/2021 contabilizando 67,9 msc. Por sua vez, o consumo doméstico, estimado pela ABIC, gira em torno das 22 a 23 milhões de sacas5.

 

Apesar da pandemia se encontrar em pleno curso dentre os mais importantes mercados importadores de café brasileiro e, diante das estatísticas apresentadas, deve-se reconhecer que os primeiros sete meses de 2020 exibem resultado muito satisfatório. Em 2019 (ano civil), somando-se a estimativa de consumo com o realizado pelos embarques, a necessidade de café gira em torno dos 62 a 63 milhões de sacas. Portanto, nos anos de ciclo de baixa, como foi a safra 2019/20, há que se contar com a mobilização dos estoques de passagem.

 

Em 2020, já em plena epidemia do SARS-Cov2 no Brasil, a demanda por café no mercado interno registrou incremento de 35% entre março e abril de 2020 (antecipação das compras se prevenindo de um eventual desabastecimento)6, porém, desacelerando nos meses seguintes, mas, com demanda ainda positiva. Julho de 2020 foi o segundo melhor julho da década, com embarques de 3,04msc (em jul./2019 contabilizou 3,39msc). Essas informações sugerem que o mercado para o café brasileiro (doméstico e internacional) esteve aquecido.

 

A ligeira desaceleração das exportações brasileiras, no período considerado nessa análise, está mais vinculada à escassez de oferta (safra de ciclo de baixa) e competição pelos lotes oferecidos ao mercado com a agroindústria de torrefação e moagem de café, ainda que guarnecida pela existência razoável volume nos estoques de passagem do que, aparentemente, com os possíveis reflexos da pandemia. Ademais, as notícias de que o consumo dentro dos lares teve crescimento explosivo não foi uma exclusividade brasileira, mas pelo contrário, alcançou os principais destinos das exportações do país, compensando, parcialmente, os reflexos negativos constatados (fechamento de cafeterias, bares e restaurantes e redução das exportações de cafés diferenciados – queda de 15%).

 

O comércio exportador de café brasileiro agregou três novos clientes para o produto: Cuba (19,2 mil sacas); Venezuela (13,7 mil sc) e Costa Rica (940 sc). Mais relevante que isso tem sido a substancial e crescente demanda de países produtores concorrentes do Brasil, Entre janeiro a julho de 2020: México (509,3 mil sacas – expansão de 39,1% frente a igual período); Colômbia (294,3 mil sc – crescimento de 107,7%); Vietnam (68,8 mil sc – aumento de 1.403%); Equador (58,6 mil sc – salto de 214%)7. Somados os países produtores compraram nos primeiros sete meses do ano 1,05 milhões de sacas, contabilizando expansão 76,4% frente aos primeiros sete meses de 2019.

 

A recente revisão dos dados da Organização Internacional do Café (OIC), tirando a oferta de café mundial da posição de superávit de 1,85 msc para um déficit de 486 mil sacas, adiciona mais ingredientes para um segundo semestre bem positivo para o mercado do produto9. Tradicionalmente, no último trimestre do ano e primeiro do ano seguinte, há pressão sobre as cotações do café no mercado internacional.  

 

Analisando-se, o desempenho recente das exportações brasileiras de café, comparativamente, aos seus principais concorrentes no mercado internacional, observa-se que o país tem logrado incrementar seu market share, enquanto os demais ou permanece estagnado (Colômbia), ou exibem queda (Vietnam, Indonésia e Honduras), mesmo considerando a perspectiva conservadora do USDA para os embarques de 2020/21 (Figura 1).

 

*estimativa

FIGURA 1 – Participação nas exportações totais de café, países selecionados, anos cafeeiros 2017/18 a 2020/21

Fonte: Elaborado a partir de dados básicos de USDA8.

 

            A produção brasileira com potencial de ser recorde histórico associado a sua excelente qualidade e a sua rentabilidade (decorrente da forte depreciação recente da moeda), fornecerá todos os ingredientes para que o país se mantenha muito competitivo (apoiando-se em: câmbio desvalorizado, produção recorde, qualidade da safra excepcional e diferencial atrativo aos importadores), ampliando sua presença nos blends das transnacionais da torrefação dos principais mercados consumidores da bebida. A pandemia, aparentemente, não ofereceu obstáculos para que a trajetória de consolidação do agronegócio Cafés do Brasil se fortaleça ainda mais nos distintos mercados em que se encontra presente e em novos que são pouco a pouco agregados a pauta de fiéis clientes.

1 – Disponível em: www.cecafe.com.br (acesso em 20/08/2020).

2 – Ver:  https://www.fas.usda.gov/data/coffee-world-markets-and-trade (acesso em 20/08/2020).

3 – idem nota 1.

4 - https://www.conab.gov.br/estoques/estoques-privados (acesso em 20/08/2020).

5 - https://www.abic.com.br/estatisticas/pesquisas-2/pesquisa-tendencias-de-consumo/(acesso em 20/08/2020).

6 - https://revistagloborural.globo.com/Noticias/Agricultura/Cafe/noticia/2020/04/mesmo-na-pandemia-consumo-de-cafe-cresceu-35-em-marco-diz-abic.html (acesso em 20/08/2020).

7 – idem nota 1.

8 – idem nota 2.

9 – Ver: http://cccmg.com.br/oic-passa-a-ver-mercado-de-cafe-em-deficit-em-1920-exportacoes-recuam-em-junho/

Celso Luis Rodrigues Vegro

Eng. Agr., MS, Pesquisador Científico do IEA

celvegro@sp.gov.br

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