T Ó P I C O : Qual é o principal desafio enfrentado pelos cafeicultores no campo? - Por Prof. José Donizeti Alves
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Qual é o principal desafio enfrentado pelos cafeicultores no campo? - Por Prof. José Donizeti Alves
Autor: Leonardo Assad Aoun
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Último comentário neste tópico em: 07/04/2022 18:23:12
Leonardo Assad Aoun comentou em: 07/04/2022 17:04
Qual é o principal desafio enfrentado pelos cafeicultores no campo? - Por Prof. José Donizeti Alves
Qual é o principal desafio enfrentado pelos cafeicultores no campo?
Parte 1 - Da migração de um ambiente sombreado da África para o ensolarado brasileiro: sucesso e raiz dos problemas
Prof. José Donizeti Alves
Recentemente me perguntaram qual é o principal desafio enfrentado pelos cafeicultores no campo? Evidentemente é uma pergunta difícil de ser respondida haja vista a variedade de problemas que assola o dia a dia do cafeicultor. No entanto, na 13ª edição do SIMCAFÉ discorri sobre o assunto em uma palestra. Para quem não teve oportunidade de assistir, reproduzo aqui, parte do que falei.
Para mim, o principal desafio na produção de café na atualidade, é a baixa tolerância do cafeeiro a eventos climáticos extremos. Então eu proponho recorrer ao ambiente de origem do cafeeiro para entender como ele moldou, aqui no Brasil, suas respostas ao clima adverso.
Desde a sua chegada ao Brasil em 1727, o cultivo do café passou por várias fases e a primeira delas foi a migração de um sistema de cultivo sombreado para o sol pleno onde, após a derrubada das árvores os produtores abriam covas para a colocação das sementes em grandes espaçamentos. Assim implantada na época, com o mínimo de conhecimento de manejo, os precursores da moderna cafeicultura nacional negligenciaram que, dado a sua origem de região sub-bosque, a espécie arábica apresentava características funcionais de uma planta de sombra e como tal, necessitava temperatura amena, baixa luminosidade e água durante todo o seu ciclo de vida. Aqui, o cafeeiro foi cultivado a céu aberto e junto com isso, passou a enfrentar altas temperaturas, elevadas luminosidades e chuvas mal distribuídas durante o ano. Nesse novo cenário, muito distante daquele de sua origem, a lavoura cafeeira passou a produzir muito café, que era também, outra condição igualmente distinta da que ela estava acostumada, uma vez que no seu centro de origem, ela vegetava muito e produzia pouco café.
No início houve um grande entusiasmo, mas logo vieram os problemas associados ao pequeno leque de genótipos com expressão comercial nesse novo ambiente: bienalidade acentuada, baixa fotossíntese, alta transpiração, desequilíbrio hormonal, baixo aproveitamento da água e dos nutrientes, pequena eficiência no transporte e alocação de fotoassimilados, desequilíbrio nas relações fonte-dreno, depauperamento precoce de carboidratos, ciclo produtivo muito curto, desfolha acentuada, floradas dessincronizadas, aborto de flores, queda de frutos, baixo rendimento dos frutos, elevada quantidade frutos-bóia, alta susceptibilidade a pragas e doenças entre outros.
Nesses quase três séculos de cultivo do café no Brasil e mais notadamente, nos últimos 50 anos, a espécie arabica, graças a robustos programas de melhoramento genético, adaptou-se às variáveis do clima e ao lado de modernas práticas de manejo, adubação, defensivos e uma cafeicultura com visão empresarial, prosperou e fez do Brasil o maior produtor mundial desse grão. Entretanto, se observarmos os problemas atuais da cafeicultura em nosso país, vemos que eles continuam, em maior ou menor grau, os mesmos do passado, isso porque a natureza fisiológica das modernas cultivares aqui desenvolvidas, infelizmente não foi modificada. Elas continuaram a ser plantas de sombra, apesar de cultivadas a pleno sol, sustentadas por tecnologias que as tornaram muito mais produtivas que no passado, mas ao custo de ter conservado em sua genética, a maioria dos distúrbios fisiológicos que já apresentavam desde sua introdução no Brasil.
Se compararmos o clima no parque cafeeiro arábica brasileiro, vemos que ele é muito discrepante daquele da sua região de origem e, paradoxalmente, é o responsável pelo sucesso da atividade no país ao mesmo tempo em que está na raiz dos problemas associados às altas produções. Como o clima modula a fenologia, sempre que há alguma adversidade climática que o distancia, ainda mais de seu clima original ele “perde a direção” e passa a sofrer os mesmos distúrbios fisiológicos observados na época de sua introdução no país. Nesse ambiente brasileiro, “hostil” a sua preferência, por um ambiente sombreado com todas as suas benesses como água abundante e temperatura aprazível, ele até hoje sente os revesses de um clima adverso e sempre que se defronta com calor e seca, ele “tende a trabalhar contra o cafeicultor”, produzindo pouco. É função de todas as pessoas envolvidas na produção de café como produtores, técnicos, pesquisadores e pessoal de empresas reverter essa tendencia e fazer o café trabalhar a nosso favor e produzir em ambiente sustentável.
Continua na parte 2: Anormalidades fisiológicas do cafeeiro em ambiente ensolarado aqui no Brasil e que foram herdadas do ambiente sombreado africano.
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